30 de dezembro de 2007

Réveillon

Vaclav Chochola | Tanecnice Club | Dancer in front of a drum

28 de dezembro de 2007

2007

Se bem me lembro, foi um ano maluco. Como todos os outros, pensando melhor. E como os anos e os meses e as semanas e as horas e os minutos e os segundos na realidade não existem, se calhar maluca é a vida, que aparentemente sim.

26 de dezembro de 2007

Finalmente

Foi preciso afixar-lhe o teleponto nas sanefas, para vermos o primeiro-ministro a falar de baixo para cima. Também não era preciso tanto.

Má Fé

O D. José Policarpo deu-me com uma tábua nas rótulas ao afirmar que «a negação de Deus é o maior problema da humanidade». Compreende-se o desarranjo à luz do raspanete ratzingeriano e do combate aos relativismos que corrompem a fé mais acrítica do rebanho. Percebe-se ainda que, sendo e contendo Deus tudo aquilo de que a humanidade necessita para, viçosa, vingar; a sua negação implique o afastamento das coisas da felicidade, sendo que todas d'Ele decorrem. Muito bem. Um alto banho de teleo-lógica na noite de Natal. Mas... O que pensará disto o ateu de bem com a vida e o devoto sem-abrigo? Enfim, os desígnios d'Ele são mesmo muito insondáveis.

Deus nunca faltou nas cabeças das pessoas de épocas ou civilizações que desde sempre mais sofreram. E, apesar das desgraças, nunca tantos viveram ou sobreviveram como hoje, em termos de acesso ao mais básico. O terrível, para as igrejas, é que a humanidade lá se vai safando - cada vez melhor, à medida que os dogmas religiosos vão assumindo papéis secundários, principalmente onde esse distanciamento é mais óbvio. Assim, pode resumir-se da seguinte forma, tanto uma suposta explicação do cardeal para o facto de a aceitação de Deus nunca nos ter trazido coisa que se visse, como a minha explicação para a cartilha oficial do Vaticano: só pode ser uma questão de má fé.

23 de dezembro de 2007

Paranoid Park

Excelente arte e ofício de Gus Van Sant, mais uma vez. Começa mas não acaba - adoro histórias que se libertam do dever de um desenlace, como todas realmente são , na verdade. À medida que o filme avança, aos solavancos dentro da memória de Alex, percebe-se que a culpa é o maior castigo possível e que, depois de instalada, é um buraco negro que engole o mundo todo. E o filme mostra essa convergência imparável, um puto sugado para uma parte de si próprio, e por entre sons e movimentos pouco distintos faz-se a coreografia da solidão.

21 de dezembro de 2007

Espírito de Natal

O Lockheed-Martin SR-71 «Blackbird», avião de vigilância e reconhecimento construído na década de 60, atingia Mach 3.2 e não possuía qualquer armamento (não precisava, voava a grandes altitudes e "bastava-lhe acelerar"). Pura arte acima das nuvens. Por favor, ofereçam um destes ao Batman.

19 de dezembro de 2007

Cadernos do Cinema [7]

Lamento

  • Não saber o nome das árvores
  • Não saber o nome dos pássaros
  • Não saber o nome de grande parte das ruas
  • Não identificar constelações, estrelas e planetas no céu
  • Não ser um animal absurdamente matinal
  • Não saber cozinhar
  • Não saber falar francês
  • Não ter hipótese face aos meus vícios (quando tenho é porque não eram)
  • Não poder aborrecer-me até aos 150

18 de dezembro de 2007

Memória

Li toda a Montanha Mágica há exactamente 8 anos, mas posso dizer-me que só acabou hoje.

O clube da puta da pipoca

Ouvi falar do suposto fim dos cinemas do Bom Sucesso. Será verdade? Se for, entramos em plena idade das trevas, cá no Porto. Ou melhor: aprofunda-se a desgraça. Sobram as projecções do Teatro do Campo Alegre, que bem podia aproveitar a falta de concorrência para assumir uma verdadeira programação de cinema mais alternativo, em vez dos actuais 10 filmes por ano, ou coisa que o valha. Depois do encerramento do Nun'Álvares, continua o imparável avanço para o domínio absoluto do clube da puta da pipoca.

Os meus problemas

com alguma arte contemporânea têm dois suspeitos: o meu provincianismo e Marcel Duchamp. Não sendo exactamente da mesma laia, a exposição de Robert Rauschenberg em Serralves deixou-me algo indiferente. Ao menos o Duchamp sempre me irrita...

16 de dezembro de 2007

Sossego

Já não há paciência para a constante demanda de vida ou rudimentos, por esses planetas fora. Se entre um calhau e a sua estrela existe uma distância equiparável à da Terra ao Sol cheira-lhes logo a água líquida, aminoácidos, peixes, borboletas gigantes ou ciclopes omnívoros. Se o calhau apresenta um nevoeiro desgraçado cheira-lhes logo a atmosfera, bactérias ou linhas de costa. Se um aprofundamento da investigação parece contrariar estas hipóteses, elas confirmar-se-ão no subsolo. Se no subsolo não se passa nada é porque já se passou. Se nada disto tem pernas para andar, o calhau é abandonado como uma velha esponja da loiça sem elasticidade nem respeitinho nenhum. Quando essa é a sua verdadeira grandeza: nada de excentricidades microscópicas, como respiração ou capacidade de angústia. Apenas elementos, praticamente imutáveis, substantivos. A derradeira ausência com-forma.

15 de dezembro de 2007

Baraka

(cont.)

Ron Fricke, 1992 [imdb]

Estilo

Sabem quando se olha em frente, prisioneiros cá de dentro e ligados por um vago fio de terra ao mundo, quando se o vê literalmente desfocado, indistinto, e é necessário declarar guerra a si próprio para, em esforço, poder atribuir os limites das coisas às coisas? Se os herbertos quisessem, enlouqueciam.

12 de dezembro de 2007

A Bússola

Tenho uma bússola que estupidamente desmagnetizei com um íman. Agora todos os dias arrisca um norte diferente. Dá-se-lhe um toque e muda logo de ideias. Está insegura, desamparada, bipolar; tão depressa se entrega a um ponto colateral como, frenética, circula tresloucada por ruas e vielas. Julgo que procura aquele pedaço de mau caminho. O íman foi à vida dele, não quer saber, conhece o efeito que exerce e não está para consequências. Tenho uma bússola desorientada, perdida de amores. Ando uma pilha de nervos, não sei que lhe faça. Proíbo que se fale em gêpê-esses, perto dela. Aí é que lhe dava o fanico.

11 de dezembro de 2007

Ave rara

O rapaz que por estes dias me corta o cabelo (isto já é uma novidade, até aqui foi só mulherio) sabe o que faz, dentro das limitações que os meus fios com diâmetro microscópico oferecem. Para além disso, tendo-me visto desmontar da burra, fala de motas com grande cilindrada e do quanto a namorada gosta de circular nelas. E constata, em absoluta sintonia comigo e apesar do óbvio utilitarismo do veículo em causa, o inevitável prazer egoísta que uma mota proporciona. Ok, já percebi que não é gay. Esta observação tem como única relevância a raridade estatística, não sendo declaração de nada: o meu cabeleireiro é cabeleireiro, gajo, gosta de motas, tem namorada. Fala e cala-se sem esforço aparente. Apresenta um leve sotaque à Paulo Bento, o que me fez temer pela griffe. Falso alarme: tem corrido bem. Não digo onde fica a ave rara.

O Poema

Já não me apetece

O poema

Que aqui estava.

Breathe

10 de dezembro de 2007

O Jogo

Director nacional da PJ garante que "onda de assassínios" no Porto vai parar [Público]

Claro que sim. No dia em que alguém ganhar a taça.

Já lá vão 4 eliminatórias.

[1º post-metáfora futebolística. Yupi.]

O Vírus da Vida

10 pequenos preguiçosos contos de JP Simões, ilustrados por André Carrilho, a 1€ cada (é justo), da Sextante Editora. O aborrecimento melancólico de quem não consegue deixar de sentir muito. Sinto muito. Netos de Boris Vian e K.Dick, que dispõem de página e meia para tocar, e tocam. Isso é obra. Em pleno planeta JP.

8 de dezembro de 2007

Pavlov's Grogue

Vai-se a correr, sempre que se pode, a fugir dos mesmos horários, das mesmas pessoas, dos mesmos assuntos, dos mesmos circuitos de sempre, em direcção aos mesmos horários, às mesmas pessoas, aos mesmos assuntos e aos mesmos circuitos de sempre que se quer fugir.

7 de dezembro de 2007

Cadernos do Cinema [6]

No fundo da página frontal deste folheto de 1980, podemos apreciar uma chamada de atenção para o facto de que a Comissão de Classificação dos Espectáculos considerou esta realização de Woody Allen como Filme de Qualidade. Com certificados tão oficiais devia ser muito difícil fazer crítica, naquela altura. Como é que se compete com uma Comissão?

6 de dezembro de 2007

Deixem-se de argumentos racionais e expliquem como se tivéssemos 6 anos.

(...) Gillian Gibbons, a britânica presa no Sudão por ter permitido aos seus alunos darem o nome de Maomé a um urso de peluche. (...) A professora beneficiou, contudo, de um perdão presidencial, depois de uma criança ter explicado que se lembrou de Maomé por «ser esse o meu nome» e também que a turma tinha aprovado, por 20 votos contra 3, esse «baptismo». [Visão]

5 de dezembro de 2007

Lent et douloureux

Do not sleep, sleeping beauty. Listen to the voice of your Truelove. He skips a rigadoon. He loves you so. He is a poet. Can you hear him? Is he just sniggering? No, he adores you sweet Beauty! He skips another rigadoon and catches a cold. Don't you want to love him? He is a poet, though, an old poet! * I had a dog once who secretly smoked all my cigars. It made him ill in his tummy. And that upset his Daddy terribly. * Advise yourself most carefully. Gird yourself with perceptiveness. Alone, for a moment. So as to make a hollow. Very lost. Carry that further. Open your head. Bury the sound. * The lapping of water in a river bed. A fish comes, then another, then two more. -What is it? -It's a fisherman, a poor fisherman. -Thank you. Everyone goes home, including the fisherman. The lapping of water in a river bed. * He hums a XVth century air. Then, he pays himself a nicely fitting compliment. Who will dare to say he is not the most handsome? His heart is tender, is it not? He puts is arm around his waist. He finds it quite ravishing. What will the pretty marchioness say? She will struggle, but be overcome. Yes, Madam. Is it not written thus?

Erik Satie

Tradução de Antony Melville | Archives de la Fondation Erik Satie

4 de dezembro de 2007

O Robert Johnson é que sabia

Pela segunda vez apercebo-me de que a inscrição num ginásio, por si só, não altera nada, não gera maior capacidade pulmonar, não estimula a redução do número de cigarros (gosto de fumar), não ajuda a regular o sono (gosto de estar quase-acordado). Parece que é mesmo preciso aparecer lá. Ora, eu só quero viver muitos anos para continuar a fazer coisas que podem impedir-me de viver muitos anos para que possa continuar a fazer essas coisas. Onde é que o diabo compra almas?

Quase Sim

Vocês obtiveram uma vitória de Pirro e, nestas condições, eu não a celebraria. [Hugo Chávez]

51% dos venezuelanos resistiram à sedução de se sentirem tão cuidados e protegidos a ponto de nunca mais poderem abrir a boca. A própria respiração passaria a ser assistida. 49% não resistiu. Também me cheira a Pirro. A aproximação ao final deste mandato vai ser assustadora.

2 de dezembro de 2007

Verde

Sam Javanrouh | frozen lines

1 de dezembro de 2007

Bohemian Rhapsody

Este gajo só pode vir de outro planeta: depois de ter interrompido os seus estudos superiores em astrofísica para brincar aos guitarristas durante 30 anos, Brian May concluiu um PhD com a tese "A survey of radial velocities in the zodiacal dust cloud", tendo sido nomeado reitor da Liverpool John Moores University. Em co-autoria com 2 colegas, May tinha já escrito e editado "Bang! The Complete History of the Universe". The Queen is dead. Heil to the King! Grande malha. Vénia. Etc.

Espaço-Tempo

Não existem anos, meses ou horas. Existem anos-luz, mas hoje nem isso, que está nublado.