30 de outubro de 2007

Oddeyesee

The Apes, 2003. Uma desbunda meia-prog-quase-punk, daquelas suficientemente afastadas dos anafados a armar ao cagalhão que sonham enriquecer destilando banalidades com muita atitude. Peças curtas, corrosivas e líricas, sem divagações magnetosféricas ou cuspidelas para o chão. Moogs e Hammonds salgados em chuva ácida na vez de guitarras distorcidas. Mark E. Smith bem podia gravar com eles.

Boooooring...

Entre sketches, o Isto É Uma Espécie De Magazine tem o groove de Cavaco Silva num clip dos Jamiroquai.

29 de outubro de 2007

Crónica do parcial

O único grande problema dos chamados ataques suicidas de alibi religioso nem sequer é o projecto narcísico de comprar uma aproximação à autoridade e à eternidade (no fundo a eternidade na memória dos Iguais, o verdadeiro lugar do deus partilhado). O único grande problema é essa negociata fundar-se na negação e no extermínio do Outro, a quem basta existir para que desminta e humilhe aquele que deveria ser todo poderoso, desmentindo e humilhando quem se lhe submete. Mas não fora esse pormenor homicida de ataque primitivo à ambiguidade sem recurso ao simbólico (podiam auto-imolar-se, simplesmente) e teriam todo o meu apoio: cada um que decida da sua própria ascenção.

27 de outubro de 2007

O tempo voa

Às duas da manhã, a hora muda. É agora. Está farta. Conseguiremos vê-la nos céus, em todos os segundos, a planar. De facto, a principal unidade de tempo será o albatroz.

Cadernos do Cinema [2]

"(...) pássaros numa fúria homicida incontrolável!" e "Sob um clima de constante sobressalto" é bonito.

26 de outubro de 2007

Se isto não é um homem!

Questionado por um jornalista do influente Komsomolskaia Pravda momentos antes de abandonar Moscovo, Vladímir Vladímirovitch Putin assegurou que, apesar do protocolo e de não pretender ferir susceptibilidades, não evitará confrontar José Sócrates e Cavaco Silva com a sua preocupação relativa aos abusos de autoridade, da prisão preventiva e das escutas telefónicas, assim como aos elevados índices de pobreza, à delicada questão da inflexibilidade do estado português quanto à autodeterminação da Madeira e a um inconcebível silenciamento do mirandês como dialecto de pleno direito, apesar da lei que o reconhece. A propósito dos rumores sobre tráfico de influências, concentração de poderes e de uma suposta progressão imparável do nepotismo, Putin respondeu com um sorriso reprovador e encolher de ombros imperceptível, como quem assume resignado que, enfim, isso seria já entendido como ingerência insustentável, apesar do incómodo que o tema lhe causa. Sublinhou ainda que, mesmo assim, a Federação Russa tentará reforçar com Portugal a cooperação ao nível energético, remetendo os jornalistas para uma pesquisa aprofundada sobre o parque eólico da Serra do Marão.

Clic! Clic! Cliclicliclicliclicliclic! Clic! Cli...

A China prevê alunar um gajo lá para 2020. Apesar de somados os triliões de registos feitos por telescópios e, desde 1959, pelas 24 missões Luna, 4 Pioneer, 9 Ranger, 8 Zond, 7 Surveyor, 5 Lunar Orbiter, 6 Apollo, Hiten, Clementine, Asiasat, Lunar Prospector, Smart, Kaguya, Chang'e, Chandrayaan e Lunar Reconnaissance Orbiter; daqui por 12 anos, mais coisa menos coisa, naquela meia horita de passeio com a câmara em riste, a China passará a deter, sozinha e através de um único homem cujo treino constou de viagens integrado em grupos de turistas, o maior espólio fotográfico da superfície lunar em todo o mundo.

25 de outubro de 2007

Cabaz de Outono [3]

Olha a grande novidade: o 16 Lovers Lane é genial.

PS: É tão difícil encontrar «novos» portos de abrigo musicais que, desde que descobri os Go-Betweens, só me apetece fazê-los render... Ou seja: The Friends os Rachel Worth só na próxima crise melómana. E ainda ficam praí uns 10 à espreita. Hell yeah!

O Signo dos Quatro

Arthur e Sigmund só foram ultrapassados pelas próprias criaturas. Ambos inventaram dois homens. E não há cataratas suíças, moriartys, novas teorias do pensamento ou investigações neurológicas que libertem os quatro.

Oblivion

Até pode haver uma tradução exacta e competente, mas para mim não há. Negligencio facilmente algum rigor só para poder brincar com uma ideia.

23 de outubro de 2007

Cabaz de Outono [2]

Dois (3) destaques até agora: Things We Lost In Fire e Drums And Guns dos Low, quase sempre em registo slow/sadcore. Em comparação, The Great Destroyer é um arraial popular. Lamentos sem drama (porque lhes doi), acordes arrastados, como se os Bohren Und Der Club Of Gore tivessem saído da catatonia milenar por artes de uma vocalista jeitosa e melancólica. Muito bom, muito triste, muito bonito. E os Yeah Yeah Yeahs (Fever To Tell). Não se pode dizer que seja mau (não é), mas pode dizer-se algo como: vendo barato. Eles que vão ouvir a Blues Explosion.

21 de outubro de 2007

Cadernos do Cinema

As enormes bobinas saíam de Lisboa, às vezes com anos de diferença em relação à estreia mundial. A partir daí iniciavam uma demorada travessia pela província, uma cópia para cada designada região. Os responsáveis pelo cinema ou cine-teatro da vila iam buscá-las à estação dos comboios, se existisse, ou às carreiras dos autocarros. Um cubículo servia para cortar e colar, unir secções, meter intervalos, transformar metros e metros de fita num filme. A cabine de onde saía o raio de luz podia ficar junto ao tecto e podia ter as paredes revestidas com enormes interruptores, daqueles que dão vida ao Frankenstein. Depois das projecções - por grandes máquinas que queimavam lápis maciços de carvão para assegurar a luminosidade e por isso precisavam de longas e esguias chaminés - o processo inverso: a fita era rebobinada numa geringonça com manivela que imitava o som do metropolitano (diziam os mais viajados), acondicionada e lançada ao destino seguinte.

No meio da parafernália viajavam folhas que levavam informação preciosa para a gestão dos filmes, que continuariam a chegar todas as semanas. Destas folhas, para além de frases de promoção e composição gráfica por vezes dignas dos cânones mais irreais das disciplinas da comunicação, constavam ainda o resumo do argumento, as fichas técnicas e artísticas, especificações técnicas (partes do filme, quantos milhares de metros de fita, sistema de cor e de imagem) e outras, como a classificação etária, licenças de registo e exibição ou a classificação do género.

Começa agora uma série com alguns exemplos do fim da década de 60, década de 70 e ainda alguma coisa da de 80, frente e verso. Para aceder à experiência total e para as guardar convém clicar nas imagens.

20 de outubro de 2007

Arthur & George

agarrou-me à primeira linha porque tem todos os traços de um very intelligent design. Elegância, ritmo certo, caracterização das personagens ao nível de quem pairou como espectro pelas vidas que descreve. É obra, evitar o deslumbramento de ser dono de algumas almas. Há autores que parecem senhores da gleba: põem, dispõem, impõem-se, indispõem-se. Arthur & George existiram e isso lê-se perfeitamente. Julian Barnes deixa-os ser.

Cabaz de Outono

Chegou o cabaz de Outono e os próximos tempos anunciam-se conturbados para aquela ínfima parte do cérebro que ainda acredita no favorecimento da coerência (esse mito sobrevalorizado): Low (Things We Lost in Fire e Drums and Guns); The Fall (This Nations Savin' Grace); Yeah Yeah Yeahs (Fever to Tell); Mark Knopfler & Emmylou Harris (All the Roadrunning); The Church (Deep in the Shallows); Buffalo Springfield (Retrospective); Bolshoi (Away); The Go-Betweens (16 Lovers Lane); Triffids (Born Sandy Devotional); The National (Boxer); The Best of Mamas and Papas e a reposição (cá em casa) desse clássico a abarrotar de grandes malhas, do primeiro ao último segundo: Back in Black dos AC/DC. Ride on!

O João Lopes salvou-me a vida

Enrolei o fio da televisão à volta do pescoço. Deu para uns bons 5 colares. Aproximei-me da janela e despedi-me do mundo. Tinha acabado de assistir ao 35mm do Mário Augusto e preparava-me para lançar o aparelho, que me arrastaria para longe daquele sofrimento, quando começou a falar o João Lopes. Desenrolei-me, fumei um cigarro, fiquei ali a ouvi-lo e depois só me apeteceu ir ao cinema. O João Lopes salvou-me a vida. Obrigado senhor João Lopes.

Português Técnico

Vi de passagem imagens do Gordon Brown a conversar e a rir-se com o Sócrates, na cimeira de Lisboa. E pensei que o português técnico do PM inglês deve ser muito bom. É a única hipótese.

18 de outubro de 2007

Love @ first site (secção: necrofilia)

No Bairro do Aleixo terminou já em idos de 2005 mas continua a valer a visita, mergulhar numa das torres amarelas de arquivos com vista para a foz, ir buscar uma dose de vez em quando. Foi um grande blog. Não faço ideia de onde ficava o escritório do escriba mas, tivesse ele uma janela para o bairro ou simplesmente para o interior da sua cabeça, treinou ali um estilo de narrativa urbana que vale mais que a maior parte dos calhamaços de antropologia, sociologia e comportamento desviante. Muito mais divertido, pelo menos, é de certeza.

17 de outubro de 2007

O cúmulo umbiguista do crítico literário

Lembrei-me que tenho ali na prateleira da FC os 5 volumes de Canopus em Argos, da Doris Lessing: Shikasta; Os Casamentos entre as Zonas Três, Quatro e Cinco; As Experiências Sirianas; A Formação do Representante do Planeta 8 e Agentes Sentimentais no Império Volyen. Apesar do pó acumulado e de nunca ter chegado sequer a abri-los (apenas para os numerar segundo a ordem oficial), o facto de alguma vez os ter perseguido e pretendido ler significa que o Nobel estará provavelmente muito bem entregue.

16 de outubro de 2007

De anatomische les van Dr. Tulp

Gore (after the Braindead)

Devia ganhar o Gore. Antes disso devia candidatar-se, claro - não estou a insinuar que alguma vez as eleições americanas possam basear-se num processo dúbio, isso seria impensável e zimbabweiano. Mas devia ganhar o Gore. Uma pena para Obama, o mais pintarolas dos candidatos que este planeta já viu mas que, desconfio, seria engolido por Washington em 3.5 ou, vá lá, 4 tempos. Já o Gore: desempenhou papel central no desenvolvimento da internet (a maior aproximação de sempre ao ideal de Babel); desatinou abertamente com a guerra do Iraque e restante chacina da constituição americana pela administração Bush; anda desde a morte do último dinossauro a armar-se em Cassandra das alterações climáticas, causas e consequências, o que culminou num Nobel, nada de realmente especial mas muitíssimo relevante, como passo a explicar. O desejo de ter Gore à frente dos EUA (para nosso governo, portanto) não tem, porém, nada a ver com cada uma destas empreitadas, per se - se não tivesse sido ele, alguém o teria feito. A questão é que a sua imagem e essência públicas estão de tal forma expostas que lhe seria intimamente catastrófico assobiar para o lado, dar ditos por não ditos, ignorar tudo isto. A questão das alterações climáticas, por exemplo, tem ramificações e implicações radicais em quase tudo. Basta pensar na dependência energética de combustíveis fósseis e as associações de ideias explodem como pipelines em Kirkuk. Se Gore assobiasse para o lado, morria. Matava-se. Matavam-no. Gore é refém de si próprio e tem obrigatoriamente de levar a personagem até à cova, porque o seu grau de envolvimento não permite grande spin. Ao contrário da maioria dos governantes, moralmente hipócritas e caracteriologicamente dissociativos. No Japão teria sempre o harakiri. No ocidente restar-lhe-ia o desmembramento mental. Uma chatice.

15 de outubro de 2007

Falar do tempo

Desde que instalei o AccuWeather como extensão ao Mozilla, falar do tempo deixou de servir para o enchimento do chouriço social. Os tipos são tão bons na predição que chegam a acertar na hora exacta em que a nuvem aparece. Agora armo-me em shaman pós-moderno (um chá-méne) e, aviso já, vendo-me por pouco. Se funcionou com os Maias...

O último brilharete aconteceu durante as férias, quando em certa e determinada tarde profetizei com algum enfado que mais uma horita e daríamos merecido descanso aos melanócitos. Já ando a treinar caras de transe, mistura de gravitas, serenidade e a sempre bizarra sequência do reviranço ocular.

14 de outubro de 2007

YouTube & MTV sucks

Nunca aturei videoclips ou telediscos ou lá como é que se diz. Eu é mais música e tal.

Por ter sido mesmo isso.

Ando a estudar a morte de e em Freud. Quanto à primeira parte, tenho vontade de despachar a coisa com um «estava vivo e depois parou-se-lhe o coração».

13 de outubro de 2007

Ik vertrek vandaag!

You Belong in Amsterdam
A little old fashioned, a little modern - you're the best of both worlds. And so is Amsterdam. Whether you want to be a squatter graffiti artist or a great novelist, Amsterdam has all that you want in Europe (in one small city).

Edit

Tal como os aspiradores, os soluços e as sacudidelas de tapetes dos vizinhos indicam, os Sábados são para limpar e arrumar uma data de coisas cá dentro. Algumas - que maluqueira... - podem mesmo mudar de sítio. Beware.

12 de outubro de 2007

Epistemofilia

(Não é PUB, é uma vénia.)

11 de outubro de 2007

Só pode ser má vontade

Abateu-se um grave foco delirante sobre o Vaticano, que agora (catederais e hotéis construídos, seguidores fidelizados) vem pôr um bocado de Fátima em causa. Milhões de pessoas estão convencidas de que uma trepadora emanação antropomorfizada de um espírito sobrenatural, que 1917 anos antes já tinha sido responsável pela concepção imaculada do filho de uma entidade que é maior do que tudo incluindo qualquer tentativa em o definir, apareceu a três miúdos revelando-lhes uns segredos (é difícil guardar segredos, caraças!), porque eles assim o relataram depois de mais um dia de enfado pastoral. Querem maior milagre que este? A adesão acrítica de milhões de pessoas, geração após geração, é mais impressionante do que 20.000 paralíticos recuperados para os 110 metros-barreiras. Uma manobra programática do Bento, por o João Paulo ter adorado a estória. Como sabe que nunca será tão popular, agora refugia-se no óbvio. Invejoso.

Nobel

Mais um ano em que o maior escritor vivo se livrou do Nobel (incluo nesta análise imparcial todos os escritores que conheço mais os que nunca li). Pelo menos 3 ou 4 dos livros de Philip Roth constituem o mais valioso património literário contemporâneo (a restante bibliografia é apenas excelente). Eles andam aí. Não precisam de prémio nenhum, muito menos da visibilidade das gasolineiras. Quem quiser, vá ter com eles. Detestaria que passasse a ser ao contrário.

[img] James Nachtwey

10 de outubro de 2007

"Mourinho recusa falar sobre futuro." [DD]

Depois bocejou, distraído, e esfregou o olho pineal.

8 de outubro de 2007

Atiratómaridizquetempurraram

Partindo do princípio de que o homem não estará a pensar nas actividades que a UE regula e controla quase totalmente (que pouco ou nada dependem do cidadão ou mesmo do governo, como as pescas), ou sequer numa intensificação do êxodo que desertificasse ainda mais o interior e apertasse catastroficamente uns e outros no litoral; esta só pode ser a primeira parte da mensagem completa. Seguir-se-á algo como «agora que se aproximaram o suficiente podem atirar-se, que este país já não tem a mais pequena hipótese de nada»? Vamos esperar.

O Clube do Holofote

Dois imbecilóides, a quem a idade mental não permite muito mais, vandalizaram um cemitério judaico. Foram apanhados e vão a julgamento. Fim da história? Parecia lógico que assim fosse. A comunidade visada, representantes religiosos, políticos avulsos e dois ministros do governo acharam boa ideia dar mais visibilidade à coisa e trataram logo de organizar uma acção de repúdio e solidariedade. Não se trata de uma cavalgada xenófoba ou anti-semita em grande, média ou sequer pequena escala. Não reflecte um crescendo de perseguição a uma comunidade específica. Não foi aleatório, mas não representa uma tendência e não justifica a evocação do holocausto ou do massacre dos judeus de Lisboa de há 500 anos. Quem chegasse por estes dias a Portugal e visse as reportagens da cerimónia na televisão pensaria que está em marcha algo muito mau. Não me parece e, se a ameaça pairar, cá estaremos todos para mostrar que não pode ser. Neste caso, apenas ganharam prime-time os cabeças vazias e uns tantos dependentes do clube do holofote.

Mais uma viagem

Nova semana. Cruzam-se e descruzam-se a grandes velocidades. *

* Em feiras e romarias, chamada clássica ao espectacular Poço da Morte.

5 de outubro de 2007

4 de outubro de 2007

Cala quem

sente com.

(anagrama para o silêncio partilhado)

3 de outubro de 2007

Procura-se

Coisas raras.

2 de outubro de 2007

A Bomba

Via Arrastão, chega a bomba: um congressista norte-americano assumiu-se como não-crente. O primeiro e único a fazê-lo, desde sempre. E prova-o. Mas... Como é que se prova uma coisa dessas? Assim:
Although Stark denies a belief in a god, he was quick to note that the Stark family does recognize a supreme being: Mrs. Stark.
Permite-se (ou é-lhe permitido, dependendo da perspectiva) sentido de humor sobre o tema.