31 de dezembro de 2008

28 de dezembro de 2008

Cztery noce z Anna

[Jerzy Skolimowski, 2008]  

Em 'Quatro Noites Com Anna' recebo os exteriores com alívio e uma sensação de conforto transitório, um ou outro minuto de tréguas; e são paisagens brancas de tanta neve, numa Polónia rural hostil e decadente. Os interiores, sem esse manto de camuflagem, são gélidos, ruínas sem biombos nem esperança possíveis, estilhaços com sombras de vida. É dentro de portas, como sempre, que tudo se passa; mas é lá fora que Leon Okrasa se confronta com o seu muro, que o devolve ao interior de si próprio em violento ricochete. O filme é a história de uma ténue e comovente resistência ao vazio, a representação de um último estertor. 

24 de dezembro de 2008

McCartney

The Fireman: Electric Arguments (2008) Nunca hei-de perdoar-me por estar a escrever sobre este disco e evocar John Lennon. Mas tem de ser. O Lennon foi o meu Mark David Chapman dos Beatles. Trauma ultrapassado, ouço-os com prazer e sem preconceitos. Bom, sem demasiados preconceitos, porque ainda não engulo completamente a imagem do místico das cançoezinhas de mudar-o-bairro, pedagogo de ideologias emprestadas pelo colo e útero da Ono. Isto a propósito do McCartney, coitadinho, que teve de ficar vivo e de sobreviver a um ícone como Lennon. Há um personagem no Million Dollar Hotel que, protegido pela alienação, caricatura o imberbe do John, parecendo que se caricatura a si próprio. Loucos são os outros. Ao Paul restaram milhões de libras, exposição, vida e gente a dizer que morto é que se está bem. Este disco confirma Paul McCartney a respirar música, genial como muitas vezes foi e teima em voltar a ser. Electric Arguments é um escândalo. Depois de tanta bajulação, reconhecimento, dinheiro, expectativas, inveja, fantasmas, conforto, décadas de música fraquinha, mediana, boa, genial; como é que depois disto tudo mais daquilo que nem sequer me passa pela cabeça ainda se saca uma obra tão prima das melhores? Vénias consecutivas, Sir Paul.

Near-life music

Dave's True Story (1994/2002) Um bar onde se fuma; ou seja, um bar. 2 ou 3 tipos no palco e uma mulher a cantar. Ninguém lhes liga puto, mas todos param de fingir confessar coisas importantes ao pescoço do outro quando eles acabam uma música. Almas panadas, encontros fatais, tão lounge e tão perto. A noite acaba bem, a vida acaba mal. A verdadeira história.

Chamem o Father Merrin

Wolfmother (2006) Quem quer que se proponha escrever um teXtículo sobre os Wolfmother, baseando-se nas influências detectáveis, deve ter de se interromper ao fim do primeiro meio parágrafo e pensar na tanga que está a levar. Descortinar vestígios espectrais, directos ou subliminares, parece ser quase tudo quanto muitos melómanos conseguem dizer do que ouvem. No caso dos Wolfmother, a coisa é tão colada a meia dúzia de bandas que mais parece possessão identitária. Não vale a pena, por amor de São Page/Plant. É a puta da desbunda, sem pretensão a neo-qualquer-coisa. Belos condensados de tributo aos grandes de 70. Puro, excelente gozo e nem um bocadinho mais. Rock'n'Roll, portanto.

23 de dezembro de 2008

Gary Larson

22 de dezembro de 2008

Esquecimento Global

Cada vez parece mais evidente que esta coisa-humanidade não conseguirá auto-regular-se até ao ponto de ter que enfrentar a sério o colapso do ecossistema. A irracionalidade e o alheamento até podem ser os de sempre, mas o potencial destrutivo (político, social, económico, militar) é francamente maior do que alguma vez foi. Ninguém quer saber. Dêem-nos novas temporadas das séries e câmaras nos rabos das celebridades. Dêem-nos mediocridade e boas festas. Boas festas.

12 de dezembro de 2008

11 de dezembro de 2008

Hipertexto

Puxei pelas costelas anarquistas (as flutuantes) e resolvi seguir a ordem (parece estranho, não é? - as costelas mais conservadoras entendem-me-nos...) alternativa, sugerida quase a medo pelo Julio Cortázar antes do início da Rayuella, que permite jogar com os capítulos de forma a não evitar os 'prescindíveis'. Isto provoca uma sensação curiosa: ando a saltar pelo livro, o que significa que num dia deixo o marcador a meio e noutro no final ou no início. O que confere uma sensação de liberdade, apesar de, na verdade, muito condicional (como todas as liberdades). E a estranha ideia, um pouco infantil, de que ele, o objecto, também gosta. Sabe-se como é importante, em vidas curtas e tendencialmente monótonas, como as dos livros, ser experimentado com variações. Dentro das folhas, a obra ganha vida, pontuada por ruminações metafísicas ou estéticas. E reforço a ideia de que o pensamento mais perigoso, a praga ontológica, obriga sempre a desvios e circunvoluções. Não imagino este jogo sem aquele dispensável.

4 de dezembro de 2008

Do tempo

Anunciou outro futuro livro. Mas logo a seguir, José Saramago diz a um Mário Crespo babado pela inesperada caixa que aquilo era notícia velha, que já tinham passado 15 segundos.

1 de dezembro de 2008

Do tempo

Martin Munkacsi