24 de dezembro de 2008

McCartney

The Fireman: Electric Arguments (2008) Nunca hei-de perdoar-me por estar a escrever sobre este disco e evocar John Lennon. Mas tem de ser. O Lennon foi o meu Mark David Chapman dos Beatles. Trauma ultrapassado, ouço-os com prazer e sem preconceitos. Bom, sem demasiados preconceitos, porque ainda não engulo completamente a imagem do místico das cançoezinhas de mudar-o-bairro, pedagogo de ideologias emprestadas pelo colo e útero da Ono. Isto a propósito do McCartney, coitadinho, que teve de ficar vivo e de sobreviver a um ícone como Lennon. Há um personagem no Million Dollar Hotel que, protegido pela alienação, caricatura o imberbe do John, parecendo que se caricatura a si próprio. Loucos são os outros. Ao Paul restaram milhões de libras, exposição, vida e gente a dizer que morto é que se está bem. Este disco confirma Paul McCartney a respirar música, genial como muitas vezes foi e teima em voltar a ser. Electric Arguments é um escândalo. Depois de tanta bajulação, reconhecimento, dinheiro, expectativas, inveja, fantasmas, conforto, décadas de música fraquinha, mediana, boa, genial; como é que depois disto tudo mais daquilo que nem sequer me passa pela cabeça ainda se saca uma obra tão prima das melhores? Vénias consecutivas, Sir Paul.