31 de outubro de 2008

Grizo

Não está frio nem orvalho,

Está um grizo do caralho.

26 de outubro de 2008

W.

W., o filme com que Oliver Stone apresenta ao mundo o 43º presidente dos EUA. A sensação imediata é a de uma obra pouco conseguida. Tenho lido comentários que vão de um extremo ao outro, daqueles que acham que o realizador foi excessivamente brando ou benevolente para com uma figura que o mundo, de bom grado, se habituou a detestar; até aos que defendem a abordagem artística e que acham que W. deve ser julgado unicamente como peça cinematográfica que é, independentemente de tudo o resto. 

Não me parece possível nem sequer desejável, seja na perspectiva de cidadão/espectador do mundo, seja na de simples consumidor de arte, abstrair-me de ter à frente dos olhos um filme baseado na vida de uma das pessoas que mais influência teve (e tem, e terá) na ordem mundial. Mesmo que tal exercício fosse concebível, W. seria mediano, uma comédia, talvez, com umas pitadas trágicas, como convém; mas nada de muito especial. Só que este filme foi construído em cima da realidade, pelo que esta deve ser tida em conta na hora de o avaliar. E a realidade é que, por muito que o pacóvio texano, unido a Deus para ultrapassar os demónios do álcool e de um pai poderoso e desvalorizante, seja aquela figura que Stone nos mostra, nos briefings e nas reuniões e no Rancho; falta pathos à Casa Branca, aos homens do presidente (medíocres personagens, artisticamente falando) e à guerra. Chaplin e Lewis fizeram-no, com os seus tragicómicos ditadores (é certo que Bush não tem metade da pinta de um Adolfo). Será que é por estarmos a ver tudo, supostamente, pelos olhos do W.? Ou terá ele, em 8 anos, realmente imbecilizado tudo e todos, à sua volta e arredores? É provável que a ideia tenha sido essa mas, assim sendo, perdeu-se uma oportunidade para encenar a idiotice do mundo. Teria preferido o contraste entre o pequeno universo mental de Bush e a enorme relevância de tudo aquilo em que ele toca. Assim, W. entra directamente para a gaveta das irritações de estimação, onde jaz o Benigni com aquela merda de filme sobre a beleza da vida num campo de extermínio nazi.

25 de outubro de 2008

Setting

Sam Abel

24 de outubro de 2008

O Primeiro de Janeiro

Mas, para ser justo, O Primeiro de Janeiro é um belíssimo nome de jornal. 

23 de outubro de 2008

:-D

Um gajo vai na rua, passa por uma banca de jornalame, dá uma vista de olhos, aprecia rapidamente os conteúdos das primeiras páginas mais as diferentes harmonias gráficas de cada uma e a primeira coisa que lhe vem à cabeça é 'vou comprar o Primeiro de Janeiro'.

22 de outubro de 2008

BB apoia Sócrates e Manuela:

"Que nos oferecem Sócrates e Manuela Ferreira Leite? Nada que rompa com o estabelecido."

Baptista-Bastos, "Diário de Notícias", 22 de Outubro de 2008

20 de outubro de 2008

folhas e folhas

O número de folhas no chão tem aumentado. Alguém começou a tocar saxofone, à noite nas redondezas, e sabe-se que as árvores já quase não pegam nas folhas. Basta uma nota mais grave para caírem às meias dúzias. Ontem andava a passear debaixo das árvores e caiu-me um bando delas em cima, sem motivo aparente. Só se foi por ter chegado a altura de caírem.

19 de outubro de 2008

NY

Começar a ouvir Neil Young a partir do MTV Unplugged de 1993 pode ter um efeito interessante: as canções, as palavras e a voz mais acessíveis. Sem ser demasiado limpinho, é simultaneamente solitário e cristalino, o que nem sempre acontece, mesmo na sua obra mais folk. O disco é muito bom, do princípio ao fim. Continuo a preferir ouvir música sem imagens, com algumas excepções (este disco não é uma delas), mas cá fica Like a Hurricane. E sempre se vê o órgão de tubos que também veio a Vilar de Mouros, já não me lembro em que ano.

18 de outubro de 2008

Complexo Édito

Que me perdoem as pessoas que ganham assim pelo menos parte da vida, mas as dobragens, excepto aquelas que se destinam a crianças em fases anteriores a um bom domínio da leitura, as dobragens em programas e documentários deviam ser despoticamente desaconselhadas. No cinema, então, nem há nada a dizer.

16 de outubro de 2008

o zombeteiro vs. follow the leader

A fotografia congela McCain numa careta a si próprio, depois de uma hesitação, desta vez no final do 3º debate. Pegar na imagem e difundi-la exaustivamente, juntando-lhe o comentário sobre uma suposta postura infantilóide de ridicularização do adversário, equivaleria ao tipo de descontextualização e acusações em que a campanha Republicana tem baseado a sua mensagem sobre Obama, como no (não) caso Bill Ayers. O que se passou foi algo diferente: McCain enganou-se e, em vez de sair pelo seu lado da mesa, seguiu Barak Obama. E isso diz umas coisas. Por exemplo, que nunca McCain interpretou tão bem o efeito que o seu adversário exerce num grande número de pessoas, nem a aparente tendência desta eleição.

14 de outubro de 2008

Outembro

Todas as noites de todos os dias vigio dezenas de árvores cujo latim desconheço. Tenho-as visto mudarem de cor ao ritmo a que o Outono avança e troca de nome. A iluminação amarela realça-lhes tudo e quando calha lua cheia também as pedras da rua brilham por baixo do manto caído de folhas no chão que parecem levitar uns centímetros para dar passagem aos últimos insectos que recolhem com os últimos pedaços de coisas orgânicas e outras que os protejam do frio. De vez em quando varre-se a rua, o que é uma pena, em termos de folhas. As árvores parecem-me indecisas mas sou eu quem está, entre o alívio da dieta que as ajudará a resistir à força do vento e o jeito que lhes daria o casaco que agora se espalha e serve de oceano pacífico aos putos e aos cães que arrastam as pernas e treinam o velho truque judaico num mar de outra cor à medida que passam.

13 de outubro de 2008

No cigar.

O mais interessante neste pequeno excerto de perguntas e respostas com John McCain não é quando ele sente necessidade de clarificar que, ao contrário de todas as insinuações que os seus cães de ataque semearam ao longo da campanha, considera Obama um "decent family man citizen". O mais interessante é tê-lo definido dessa forma por oposição a "árabe".

12 de outubro de 2008

Bláblá Blá... Blá

Cada vez ando menos de carro, o que implica voltar a relacionar-me com a cidade utilizando mais do que 1 ou 2 sentidos, mas também menos música e, principalmente, menos rádio. Como me apeteceram conversas, daquelas fluidas e inteligentes, nada de pretensioso ou demasiadamente encriptado (higienicamente vagas e incongruentes), procurei e fui escolher o conversador por excelência. Miguel Esteves Cardoso no Pessoal... e Transmissível de 6 de Outubro. Inicialmente sobre a ideia de que "Em Portugal não se come mal" - quem não é para comer não é para conversar, digo eu - mas que depois se estendeu às várias estações e apeadeiros da vida do Big MEC. Bem bom.

10 de outubro de 2008

entretenimento garantido

De longe, o 24 Horas é o meu jornal online.

9 de outubro de 2008

Le Clézio

"Leio agora que em 1994, a revista Lire considerou Le Clézio «o maior escritor da língua francesa». Parece que ele respondeu: «Teria posto Julien Gracq em primeiro». É impossível não gostar dum homem que deu esta resposta."

estado civil

8 de outubro de 2008

Tragicomédia

Algumas fatwas chegam a ser divertidíssimas, naqueles segundos que as imagens de quem tem de se submeter a estas palhaçadas perversas demoram a chegar ao cérebro.

6 de outubro de 2008

A Madonna

e os seus milhões de fãs ultrapassam-me pela direita. Até hoje sempre assisti a períodos em que não se fala de outra coisa, ou pelo menos em que recomeça a falar-se imenso. Novo álbum, novo clip, casamento, filhos, corpo, idade. Cada vez mais esfíngica e quase-sobre-humana (mas sempre humana), entedia-me constatar o efeito que a personagem tem nas pessoas, mesmo em algumas das mais insuspeitas, na sensibilidade e no bom senso. Sempre me pareceu que a história não podia ter nada a ver com a música (supostamente, a arte dela): nunca foi brilhante. Mediana na essência, como centenas. Sempre contratou bons profissionais daquele segmento que, por si só, não tem nada de especial a apresentar ao mundo. A imagem (o seu ofício), lato sensu, quase sempre vendeu tudo o que Madonna desejou, e a troca foi sendo gerida de forma mais do que hábil, num percurso entre o provinciano com garra e o icónico instalado, sofisticado e inatingível. É qualquer coisa como isto, a Madonna. O beijo à Britney Spears é um raro momento confessional, apesar de encenado noutro sentido. Aquele beijo era ela a dizer que, em termos artísticos, podia ter sido apenas uma Britney, que no fundo iam dar mais ou menos ao mesmo, só que em bem mais inteligente. Não lhe conheço nada que valha a pena ouvir meia dúzia de vezes por iniciativa própria, nestes anos todos. Agora prepara-nos para que pensemos que a queremos ver envelhecer, cada vez mais holográfica mas sempre, sempre mortal (pura prestidigitação: ela já é imortal, até que morra). Vou portanto continuar a levar com ela e a minha única curiosidade é tentar reconhecer o ano em que começará a vestir-se melhor nos espectáculos e a conseguir  favorecer aquele rabo, que também nunca foi nada de especial.