28 de fevereiro de 2009

Casórios Esquisitos

A engenharia social ideológica influencia e modela em desprezo da identidade dos povos. Mas esta pode alterar-se sem bases obscuras. Um certo grau de engenharia é inevitável em sociedades não anárquicas. Chama-se Política e está, supostamente, próxima das elites (em teoria, claro) - os que interpretam a tal lógica mas que não são puxados: puxam. Sem qualquer grau de engenharia social estaríamos condenados à oclocracia.

A homossexualidade é relativa à espécie humana. Não depende das leis que sobre ela se editem, nem aqui nem no Irão. Integrar o casamento-entre-pessoas-do-mesmo-sexo (uff...) no corpo social não implica, de todo, a abertura ao casamento poligâmico. Para que tal distinção aconteça basta que a sociedade aceite o primeiro como parte de si (já aceitou, embora não lhe chame casamento) e continue a rejeitar o segundo como estranho. Não há aqui qualquer obrigatoriedade de congruência linear e generalista. A argumentação do JPP assenta num apelo a determinadas consequências, como se estas pudessem ser desencadeadas por uma qualquer falácia indetectável.

26 de fevereiro de 2009

A dor, a dor...

Declaração de desinteresses: nos tempos em que ainda não conhecia a personagem li praí metade (e debati-me e insisti para chegar ao fim) do Tratado das Paixões da Alma e d'A Ordem Natural das Coisas (grande título), tempos em que fazia questão de vencer o enfado que alguns livros me provocavam (hoje em dia sou algo desafectado com essas coisas - um calhamaço que me aborreça está condenado a mais 15 ou 20 páginas para mostrar o que me vale - tempus fugit). 

A partir de determinada altura, fiquei atento. Questionei-me sobre quem seria aquele escritor de quem se dizia tanto e tão bem e que eu não conseguia atingir. Urgia (calma, Braga: isso é com 'O'...) deslindar a hipótese arrasadora de eu ser afinal uma jovem mosca consumidora de fast-food literária, entusiasmado com os McKafkas e os Eça's Fried Chicken dos escaparates.

Passei então a encontrar o ALA em tudo o que era entrevista, a proclamar a sua profunda repugnância por entrevistas. Servidas com cópias de manuscritos em folhas do hospital, num estilo obsessivo e quase hieroglífico, como se um buraco negro depressivo estivesse a atrair todos os caracteres que alguma vez escrevera, desde a Primária, passando pelos copianços do Liceu.

E a personagem de si próprio, como bem lhe chama o FJV, apareceu; revelado em todo o seu pathos sombrio e redundante. 

Estava ali a lógica das minhas duas desistências, que a partir de certa altura era invariavelmente servida em gratinado ressentimento pelo Nobel do outro que não ele. Aquela dor de existir era sempre tão rebuscada que já não parecia dor, eram palavras. Que começavam e terminavam em si mesmas (em si mesmo). Um universo circular que não abria a ruínas circulares, no expandido sentido de Borges. E, cá na minha (um) pouco humilde concepção, não era possível desvitalizar completamente o desassossego, para se poder fugir-lhe com alguma pinta. O Beckett enlouquecia o próprio sofrimento e fugia-lhe, ou tentava. O Fiódor chicoteava-se com um Terço de canetas e com o inferno gelado da sua Sibéria privada. O ALA mastigava, dramatizava, e nunca mais saíamos dali. Fui-me.

24 de fevereiro de 2009

20 de fevereiro de 2009

Foda-se, que voz tão bonita

Ode to the LRC | Band of Horses | Cease to Begin (2007) | Tubo

Nunca tive especial predilecção por vozes de afinação imaculada, ou seja, se cantarem boa música tudo bem. Adoro o Dylan, porra. Mas acontece-me andar fascinado com as cordas do Ben Bridwell, la-di-das e tudo. O vírus, desconfio, instalou-se-me mais recentemente nas audições consecutivas dos My Morning Jacket. E agora encontro-me nesta situação um bocado parva. Que é a de ouvir este gajo, ou o Jim James, e dar por mim a pensar ou dizer coisas como 'foda-se, que voz tão bonita'. Help.

18 de fevereiro de 2009

Aproximem-se

Aqui está o primeiro momento do que pode culminar numa noite do caraças, em frente a um palco e dois gajos a cantar.

16 de fevereiro de 2009

Pasta das reivindicações. Suor.

Yannis Kolesidis (Grécia, 2008)

11 de fevereiro de 2009

Créditos

(Chappatte, Int. Herald Tribune)

10 de fevereiro de 2009

Mendigo da Atenção condenado a 3 minutos de solitária

Foi condenado a 3 minutos de solitária, sem possibilidade de recurso ou saídas precárias, o cidadão considerado culpado de mendigar atenção nas ruas do centro da cidade. O indivíduo mostrou-se agradado com todo o processo, designadamente pela presença, durante as sessões do julgamento, de tantos funcionários da Justiça. Quanto à pena que lhe foi atribuída, declarou sentir-se "um pouco apreensivo", mas com "esperança em conseguir começar a ouvir vozes", a tempo do encarceramento.

8 de fevereiro de 2009

A Fome-Ideal

Hunger (Steve McQueen, 2008).

Os últimos tempos de Bobby Sands, militante do IRA que em 1981 liderou uma greve de fome na prisão de Maze e morreu a reivindicar o estatuto de preso político, para si e para os seus companheiros. A segunda parte do filme, a partir da impressionante conversa de Sands com o padre, é simplesmente arrasadora. Severo e violento, com contemplações.

5 de fevereiro de 2009

We have decided not to die

Daniel Askill, 2004

4 de fevereiro de 2009

Jornalismo de Investigação (o não-post)

Depois de uma minuciosa indagação pelo Correio da Manha (assim mesmo, sem til), fica a saber-se que "Marina Rodrigues não vai estar em Manchester para comemorar o 24º aniversário de Cristiano Ronaldo", que "a jovem madeirense volta a negar ter qualquer relação amorosa com o jogador", que  afirma "não manter nenhum tipo de contacto com ele", que "não foi convidada para a comemoração", que "não vai perder tempo a procurar presentes", que não vai "oferecer nenhuma prenda ao Cristiano pois não tenho intimidade para isso",  que  "a amizade já não é o que era" ("Há já algum tempo que não falo com ele, ao contrário do que possam pensar", esclareceu), mas que, afinal "não fica indiferente à data festiva" ("Apenas posso desejar-lhe que passe um dia bastante feliz, na companhia da família e das pessoas que mais ama").

Senhores: o facto de esta ser uma 'dupla não-notícia' dificilmente a transforma numa propriamente dita. Menos por menos nem sempre dá mais.