Declaração de desinteresses: nos tempos em que ainda não conhecia a personagem li praí metade (e debati-me e insisti para chegar ao fim) do Tratado das Paixões da Alma e d'A Ordem Natural das Coisas (grande título), tempos em que fazia questão de vencer o enfado que alguns livros me provocavam (hoje em dia sou algo desafectado com essas coisas - um calhamaço que me aborreça está condenado a mais 15 ou 20 páginas para mostrar o que me vale - tempus fugit).
A partir de determinada altura, fiquei atento. Questionei-me sobre quem seria aquele escritor de quem se dizia tanto e tão bem e que eu não conseguia atingir. Urgia (calma, Braga: isso é com 'O'...) deslindar a hipótese arrasadora de eu ser afinal uma jovem mosca consumidora de fast-food literária, entusiasmado com os McKafkas e os Eça's Fried Chicken dos escaparates.
Passei então a encontrar o ALA em tudo o que era entrevista, a proclamar a sua profunda repugnância por entrevistas. Servidas com cópias de manuscritos em folhas do hospital, num estilo obsessivo e quase hieroglífico, como se um buraco negro depressivo estivesse a atrair todos os caracteres que alguma vez escrevera, desde a Primária, passando pelos copianços do Liceu.
E a personagem de si próprio, como bem lhe chama o FJV, apareceu; revelado em todo o seu pathos sombrio e redundante.
Estava ali a lógica das minhas duas desistências, que a partir de certa altura era invariavelmente servida em gratinado ressentimento pelo Nobel do outro que não ele. Aquela dor de existir era sempre tão rebuscada que já não parecia dor, eram palavras. Que começavam e terminavam em si mesmas (em si mesmo). Um universo circular que não abria a ruínas circulares, no expandido sentido de Borges. E, cá na minha (um) pouco humilde concepção, não era possível desvitalizar completamente o desassossego, para se poder fugir-lhe com alguma pinta. O Beckett enlouquecia o próprio sofrimento e fugia-lhe, ou tentava. O Fiódor chicoteava-se com um Terço de canetas e com o inferno gelado da sua Sibéria privada. O ALA mastigava, dramatizava, e nunca mais saíamos dali. Fui-me.