As enormes bobinas saíam de Lisboa, às vezes com anos de diferença em relação à estreia mundial. A partir daí iniciavam uma demorada travessia pela província, uma cópia para cada designada região. Os responsáveis pelo cinema ou cine-teatro da vila iam buscá-las à estação dos comboios, se existisse, ou às carreiras dos autocarros. Um cubículo servia para cortar e colar, unir secções, meter intervalos, transformar metros e metros de fita num filme. A cabine de onde saía o raio de luz podia ficar junto ao tecto e podia ter as paredes revestidas com enormes interruptores, daqueles que dão vida ao Frankenstein. Depois das projecções - por grandes máquinas que queimavam lápis maciços de carvão para assegurar a luminosidade e por isso precisavam de longas e esguias chaminés - o processo inverso: a fita era rebobinada numa geringonça com manivela que imitava o som do metropolitano (diziam os mais viajados), acondicionada e lançada ao destino seguinte.
No meio da parafernália viajavam folhas que levavam informação preciosa para a gestão dos filmes, que continuariam a chegar todas as semanas. Destas folhas, para além de frases de promoção e composição gráfica por vezes dignas dos cânones mais irreais das disciplinas da comunicação, constavam ainda o resumo do argumento, as fichas técnicas e artísticas, especificações técnicas (partes do filme, quantos milhares de metros de fita, sistema de cor e de imagem) e outras, como a classificação etária, licenças de registo e exibição ou a classificação do género.
Começa agora uma série com alguns exemplos do fim da década de 60, década de 70 e ainda alguma coisa da de 80, frente e verso. Para aceder à experiência total e para as guardar convém clicar nas imagens.