O D. José Policarpo deu-me com uma tábua nas rótulas ao afirmar que «a negação de Deus é o maior problema da humanidade». Compreende-se o desarranjo à luz do raspanete ratzingeriano e do combate aos relativismos que corrompem a fé mais acrítica do rebanho. Percebe-se ainda que, sendo e contendo Deus tudo aquilo de que a humanidade necessita para, viçosa, vingar; a sua negação implique o afastamento das coisas da felicidade, sendo que todas d'Ele decorrem. Muito bem. Um alto banho de teleo-lógica na noite de Natal. Mas... O que pensará disto o ateu de bem com a vida e o devoto sem-abrigo? Enfim, os desígnios d'Ele são mesmo muito insondáveis.
Deus nunca faltou nas cabeças das pessoas de épocas ou civilizações que desde sempre mais sofreram. E, apesar das desgraças, nunca tantos viveram ou sobreviveram como hoje, em termos de acesso ao mais básico. O terrível, para as igrejas, é que a humanidade lá se vai safando - cada vez melhor, à medida que os dogmas religiosos vão assumindo papéis secundários, principalmente onde esse distanciamento é mais óbvio. Assim, pode resumir-se da seguinte forma, tanto uma suposta explicação do cardeal para o facto de a aceitação de Deus nunca nos ter trazido coisa que se visse, como a minha explicação para a cartilha oficial do Vaticano: só pode ser uma questão de má fé.