16 de dezembro de 2007

Sossego

Já não há paciência para a constante demanda de vida ou rudimentos, por esses planetas fora. Se entre um calhau e a sua estrela existe uma distância equiparável à da Terra ao Sol cheira-lhes logo a água líquida, aminoácidos, peixes, borboletas gigantes ou ciclopes omnívoros. Se o calhau apresenta um nevoeiro desgraçado cheira-lhes logo a atmosfera, bactérias ou linhas de costa. Se um aprofundamento da investigação parece contrariar estas hipóteses, elas confirmar-se-ão no subsolo. Se no subsolo não se passa nada é porque já se passou. Se nada disto tem pernas para andar, o calhau é abandonado como uma velha esponja da loiça sem elasticidade nem respeitinho nenhum. Quando essa é a sua verdadeira grandeza: nada de excentricidades microscópicas, como respiração ou capacidade de angústia. Apenas elementos, praticamente imutáveis, substantivos. A derradeira ausência com-forma.