O rapaz que por estes dias me corta o cabelo (isto já é uma novidade, até aqui foi só mulherio) sabe o que faz, dentro das limitações que os meus fios com diâmetro microscópico oferecem. Para além disso, tendo-me visto desmontar da burra, fala de motas com grande cilindrada e do quanto a namorada gosta de circular nelas. E constata, em absoluta sintonia comigo e apesar do óbvio utilitarismo do veículo em causa, o inevitável prazer egoísta que uma mota proporciona. Ok, já percebi que não é gay. Esta observação tem como única relevância a raridade estatística, não sendo declaração de nada: o meu cabeleireiro é cabeleireiro, gajo, gosta de motas, tem namorada. Fala e cala-se sem esforço aparente. Apresenta um leve sotaque à Paulo Bento, o que me fez temer pela griffe. Falso alarme: tem corrido bem. Não digo onde fica a ave rara.