30 de setembro de 2008

Taxi TV

Não desejo isto a ninguém e, sinceramente, espero que ainda faltem milénios até à minha iniciação. E que, de preferência, já exista a sofisticada possibilidade de o próprio passageiro desligar aquela merda, ou qualquer outro gadget que entretanto adicionem para nos picar os miolos. Pouco barulho, porra. Tenho o direito de ouver a cidade e de estar cá com as minhas coisas.

Taxi TV2

Pergunto-me se terá havido uma Assembleia Geral dos Taxistas em que, de um canto da sala, alguém lançasse a ideia que teria caído como excelso raio de luz sobre toda a classe: - Companheiros, estamos fartos de aturar a conversa quadrada dos nossos fregueses! Nós somos redondos, temos rodas e belos pneus. Exigimos algo que os distraia de nós, que os intoxique até à medula e os faça esquecerem-se que existimos e nos deixem simplesmente levá-los da origem ao destino. Ggggghh... 51 à Trindade!...

29 de setembro de 2008

Pós-nada

Da cisão do cristianismo americano, em finais do século XIX, desenha-se o processo que culminará nas mundivisões Republicana e Democrata, a partir dos protestantismos privado (o resgate de cada alma) e social (a reforma das leis sociais para a salvação). A questão doutrinal não varia muito, mas a interpretação do rumo que o mundo deve seguir, na sua aproximação ao sagrado, diverge de forma substancial.  

"This election was supposed to be about post-partisanship, but it's not even post-19th century. It's a contest between two worldviews that have been struggling against each other in sanctuary and voting booth for more than a century."

28 de setembro de 2008

Pró boneco

Ontem, 21:40h. Última oportunidade de ver O Nada E O Silêncio Em Beckett, pelo Teatro de Marionetas do Porto, no Carlos Alberto. Era às 21:30h, claro. Nada feito. Eu juro que não incomodaríamos, abriria o Zippo com cuidado e gatinharíamos até à primeira fila. Nada de tosssidelas, apenas aquela chama descontrolada e aquele cheiro a combustível de aviões. Nada. Silêncio. Cidade. 

27 de setembro de 2008

Debate

O primeiro Obama-McCain, aguardado com enorme expectativa, pariu dois ratos. Um debate, principalmente nos EUA, é um duelo de personalidades. Nem isso: é uma batalha de personagens, o momento da cristalização de estereótipos, em que se perscrutam poses, linguagem não-verbal, gaffes e pouco mais; numa assunção velada da busca, no acto-falho, de algo mais verdadeiro. O resto já se conhece à exaustão, não gastassem milhões de dinheiros a promover o que querem que os eleitores pensem que eles e os adversários pensam.

Do debate de ontem, por exemplo, os jornalistas retiraram essencialmente o facto de McCain ter repetido vezes sem conta, sobre as ideias do adversário quanto a política externa, que ele não estava a perceber, que ele não conseguia atingir; assim como deram imenso destaque ao facto de Obama ter referido, uma dúzia de vezes, que o John tinha razão sobre isto ou aquilo. 

O excesso de exposição mediática acaba sempre por estupidificar, porque a televisão (principalmente) não contempla grande articulação do pensamento. Estes debates americanos - apesar das melhorias introduzidas no formato, que proporcionaram maior liberdade de acção - são sofisticados duelos de gladiadores maquilhados. O conteúdo segue, mais ou menos, dentro de momentos.

21 de setembro de 2008

McGaffe

Quando McCain meteu os pés pelas mãos, na entrevista em que deu a entender que poderia muito bem não receber o Zapatero - como se este se tratasse de um zapatista presidente de uma daquelas manchas vermelhas da zona-sul - começou a perceber-se claramente o quão perigoso é o homem. Não pelo facto de colocar a hipótese de abrir uma crise institucional com um país membro da Nato (um aliado) e da UE - a realpolitik corrige essas coisas -, nem sequer pela evidência de desconhecer o nome do político mais importante de um dos países mais influentes do mundo. McCain revelou toda a sua perigosidade ao agarrar-se, firme e hirto, à primeira resposta que deu, claramente por ignorância e alguma distracção, independentemente das consequências. O W., ao menos, põe-se a sapatear e a emitir sons esquisitos.

A curiosidade será tentar perceber, a partir de agora, como é que adversários, jornalistas e opinion-makers reagirão a tudo isto: explorando ou analisando a gravidade de uma crise anunciada com Espanha (o que pressupõe todos fazerem de conta que era mesmo aquilo que ele queria dizer) ou explorando as questões de carácter do homem (o que pressupõe uma abordagem mais agressiva, recusando-se embarcar em aldrabices, ilusionismos e inter-ditos).

Entretanto, daqui até Novembro espera-se uma intensificação dos atentados,  no médio oriente ou mesmo noutros locais habitualmente mais temperados (onde a identificação à cultura ocidental seja mais óbvia). A violência e a frequência desses atentados será proporcional à vantagem de Obama nas principais sondagens da corrida presidencial, que não serve aos fanáticos, nem aos da América nem aos do médio oriente.

16 de setembro de 2008

13 de setembro de 2008

Génio

(...) Good day to be alive,” he says

Then it comes to be that the soothing light at the end of your tunnel

Was just a freight train coming your way

Then it comes to be that the soothing light at the end of your tunnel

Was just a freight train coming your way

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No Leaf Clover (1999). Hetfield e Ulrich escreveram esta maravilha que os Metallica apresentaram, em 1999, com Michael Kamen (rip) a conduzir a San Francisco Symphony Orchestra; para a prosperidade em S&M

Play it (extremely) loud.

12 de setembro de 2008

Viner | Icarus

(...)

- Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.

Ao ouvir esta última palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma gargalhada, que produziu em torno de nós o efeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou a mudez das cousas externas.

- Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives: não quero outro flagelo. 

- Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar-me da existência.

- Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver.

Dizendo isto, a visão estendeu o braço, segurou-me pelos cabelos e levantou-me no ar, como se fora uma pluma. Só então pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorsão violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; a feição única, geral, completa, era a da impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas no coração.

in  Machado de Assis | Memórias póstumas de Brás Cubas

10 de setembro de 2008

Raios Cómicos

O LCH do CERN já arrancou. Se tudo correr bem, a coisa correrá mal. Um buraco negro que engula esta merda toda é exactamente o que a humana idade merece. Pelo indesculpável desperdício do potencial para a vida inteligente.

7 de setembro de 2008

5 de setembro de 2008

(Não) Tenho Dito

Um gajo cresce e percebe que não tem assim tanto para dizer. E que quanto mais diz menos cresce. Então um gajo cala-se mais e cresce, e vai percebendo coisas e di-las, organizando o discurso e assim organizando as ideias. Quando o discurso e as ideias começam a circular a rotunda, um gajo não cresce. Se um gajo não treina o discurso, também não. Aquele lusco-fusco, aquela zona dinâmica entre a torrente de adquiridos defuntos e a cara de parvo que observa tudo como se tivesse acabado de nascer (sem discurso), essa linha desgraçada em que finalmente algo interessante acontece, é escorregadia como uma curva junto a uma fonte no inverno. 

4 de setembro de 2008

Agora vamos ficar a ver as árvores mudar de cor.