31 de agosto de 2007

Marcas de Sucesso

( Ou: "Hey!, What's your sign?..." )

Abbas

Those Frantic Flying Machines II (errata expiatória)

Ali em baixo falei das tanjas que os aviões da Air Race fazem às parabólicas. É claro que já quase não se vêem parabólicas; e ainda bem. Por qualquer motivo tive que escrever "parabólicas", o que deve estar relacionado com os loops dos aviões. Evocou-se ainda o caos que as skylines e as varandas chegaram a ter em cima. Mas de facto já quase não há parabólicas.

Na Baixa

Devo andar muito próximo da nulidade em toponímia urbana. Estou a pensar no início da rua da Casa dos Livros, paralela à do Plano B, um pouco abaixo da Lello, em frente ao estacionamento dos Clérigos. É aí que fica uma enorme loja-armazém, recentemente transformada num concentrado de brinquedos de lata, extintores fora do prazo, atoalhados fixolas, bússolas que funcionam e apontam o Norte, bússolas que funcionam à sua maneira apontando o Sul, máquinas de escrever, bonecos, caixas de madeira, cinzeiros, louças, quadros, molduras, guardadores de rebanhos de fotos amarelecidas e outras coisas em forma de assim. Tudo muito arejado e com lugar para existir, que o espaço é generoso e as janelas são do tamanho do século XIX, daquelas que se projectam em quadriculados de luz e sombra, invadindo suavemente chão, objectos e gentes, com quem se poderia jogar ao galo. Atrás do balcão palavras simpáticas do tempo e do trânsito, independentes dos dinheiros gastos e de estarmos em quase dois mil e oito, ano da graça das senhoras, dos senhores, etcetera.

*

Por muito que isto irrite as cassandras do costume e sem pretender que tudo vai bem no melhor dos mundos possíveis, mesmo que a observação esteja sujeita aos humores de uma tarde bem passada, tenho a ideia de que nem tudo corre para a morte, nesta cidade. Uma certa espécie de bares (o conceito que vem substituir os antigos cafés, que pertencem realmente ao passado), galerias, lojas que não vendem mais do mesmo, requalificação de espaços públicos, recuperação de alguns quarteirões para habitação. Sem politiquices e agendas armadilhadas: já cá vi tudo muito mais condenado.

[Edit]

Esqueci-me de que tinha trazido um recibo, preenchido à mão com duplicado por artes de uma folha de papel-químico. Falei da 'Fábrica e Armazém das Carmelitas', na rua delas.

30 de agosto de 2007

Those Frantic Flying Machines

O Porto foi invadido por uma legião de moscardos viciados em cafeína. Partem do queimódromo e sobrevoam a zona do rio, frenéticos, em loops e tanjas às parabólicas. Cá pela janela da sala passam 3 ou 4 vezes em cada meio minuto, a reconhecer o percurso e a avisar as gaivotas e os sonhadores de que o ar agora é só deles. Até ao fim-de-semana são os responsáveis pela banda sonora da cidade. Seria irritante se não fosse tão fixe.

Fumo

O fogo que engole a Grécia parece ser da mesma laia daquele que consumiu Portugal. São as chamas das matas ao abandono, da parca monitorização na canícula e dos insuficientes dispositivos de resposta. Deste lado a coisa amainou. A meteorologia tem tratado de quase tudo e, mesmo que as temperaturas ainda subam consideravelmente, os solos deverão ter absorvido alguma água, o que os tornará um bocado mais protegidos (pelo menos em comparação com anos recentes).

Compraram-se uns aviões, mas pouco ou nada se ouviu sobre prevenção. Tendo em conta a tendência pirotécnica deste governo para celebrar qualquer meia-medida, o silêncio do MVPD (Ministério da Verdade e da Propaganda Descarada) é, como dizê-lo?, assustador.

29 de agosto de 2007

Mira Técnica

Center of the Universe | Giant Sand

Da Bola

[Ou d' O Esférico Rolando Sobre A Erva]

2006/2007 foi a primeira época, desde que me lembro de gostar de bola, em que não consegui ver um único jogo do princípio ao fim. A maior parte das vezes por enfado. Nas restantes por influência do estranho fenómeno de certas ideias intrusivas: imagens e sons das circunferências de imprensa pré e pós-jogatina, entrevistas aos adeptos, o apito salgado, horas de peroranço sobre vida, obra e pensamento dos jogadores e da excitatória verve analítica do professor Seara. Tenho mantido algum interesse no topo da Premier League e em resumos mais ou menos alargados do FCP. No entanto, não estranhamente, consigo aguentar-me em qualquer acesa esgrima clubística, apesar de desconhecer mais de metade do actual plantel do dragão.

*

Em tempos vi uma reportagem sobre uma visita que o Simão Sabrosa fez à sua antiga escola. No meio da histeria dos adultos e do deslumbramento dos putos, lá falou o Simão, para reforçar a decisiva importância da escola num futuro risonho. Foi um gesto bonito e filantropo, apesar de desnecessário. Nenhum garoto, dos presentes e dos ausentes, ignorava como Simão fez fortuna ao longo de uma vida a traduzir Proust, Bernhard e Bulgakov. O exemplo estava ali.

Rufo

Lennon: No more unscheduled public appearances. We've had enough. We're going to stay in our hotel except for concerts.

Press: Won't this make you feel like caged animals?

Lennon: No. We feed ourselves.

Cigarros

Podia ser outra coisa qualquer, mas são maços de cigarros. Representam o vício universal. Ainda são legais e muito fáceis de transportar, o que me deixa alguma margem para ser chato com os amigos mais vagabundos. Guardo os do meu mundo e os dos deles. Raramente os abro, embora às vezes tenha que experimentar um ou outro. Para respirar.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

28 de agosto de 2007

Do recuo da pólis

A cidade tende a encolher. É do tamanho da altura e do horizonte das últimas ruas descobertas com curiosidade. A partir daí, o programa dos dias tapa. Olha-se e vê-se o suficiente para chegar a casa são e um bocadinho salvo em toda a eternidade do resto da noite.

Descobri um prédio antigo no mesmo percurso de sempre. Ia jurar que o puseram lá anteontem. Um gajo distrai-se da vida e a cidade volta a crescer.

Masters of Puppets

Springfield sob ameaça. Sob a ameaça de Matt Groening. Encharcaram os Simpsons em benzodiazepinas e trataram-os como bonecos. Às vezes topa-se-lhes os fios, que sobem das extremidades até às mãos da Motion Picture Association of America. Mesmo assim só se safaram com um PG-13.

Enfim, drogaram os Simpsons e deixaram que o Homer conduzisse. Bonito serviço.

Dia 1

Multidões (como dizia o Walt).

Re-conhecem-me-se. «Ainda estamos cá dentro, andamos sempre com ele.»

Here we go.

25 de agosto de 2007

Feliz ano novo

Não há direito que viajar seja contabilizado como tempo de férias. O que devia era ser obrigatório, uma espécie de workshop regular nas artes de existir. Pelas contas desse rosário só tive direito a uma semanita, esta última, em que estive por casa. Segunda-Feira volta a ser Segunda-Feira, a primeira de mais um ano.

Diários de Rubachov

'Governo estuda colocar «chip» nas matrículas dos automóveis'

Em furiosa aproximação ao chip sub-cutâneo.

24 de agosto de 2007

O princípio do fim do circo bárbaro?

A TVE deixou de transmitir touradas no período da tarde, condicionando ainda as emissões em diferido, noutros horários. Os protestos multiplicam-se, com o clássico «ataque à cultura e à tradição-barra-identidade» na ponta da bandarilha indignada.

A "protecção dos públicos mais jovens" é uma excelente desculpa, boa como outra qualquer. Por mim até podiam justificar a medida com um oficial «porque sim» (dar-me-ia mais gozo, confesso; tendo em conta o argumentário pela defesa do atavismo circense).

Chegará o dia em que cairá de podre o espectáculo medieval, com toda a pirosice que o orbita, sem que grande espalhafato se gere.

Até lá, continuo incondicionalmente a sair-me pelo touro. Olé.

Que nem um calhau

Parece que foram perdoadas multas aos grandaddies Keith Richards e Ron Wood, depois de na O2 Arena de Londres (O2 Arena, repare-se), durante um concerto dos Stones, terem acendido um cigarro cada um, para logo a seguir os apagarem, "ainda antes de serem avisados de que não podiam fumar".

Estou muito desiludido, e não é pela confrangedora autocensura. É que por este andar os tipos vão durar mais uns bons 20 anos, e com jeitinho os pulmões do Richards ainda entrarão no banco de transplantes. Até lá, a música continua maioritariamente chata, como sempre. O que é que sobra?

PS: Prometo não voltar a fazer piadolas sobre os Stones. Eu próprio já não tenho pachorra.

A Crise

As míticas 7 diferenças do JN só já são 6.

A Lovely Descent

Viner

21 de agosto de 2007

PUB

Kierikkikangas: a chuinga da criação.

Ao sétimo dia, há seis mil anos, ainda absorto pelo esforço e a léguas de que tudo iria correr muito mal, apercebeu-se finalmente de que a chuinga já não tinha sabor, mais parecendo um pedaço de borracha sem Graça. E cuspiu-A; em Kierikkikangas.

20 de agosto de 2007

Aviso à navegação

Devido a recentes cortes orçamentais no sector energético, tendo em conta os insustentáveis gastos com ventoinhas, ar-condicionado, frigoríficos e viagens de carro para o Algarve, avisa-se que o Verão foi transferido para o Outono. Agostos como os de antigamente são incompatíveis com a economia deste país. Aconselham-se os mais inconformados a pedir nacionalidade libanesa, onde existe petróleo suficiente para pôr a funcionar aparelhos de refrigeração forçada, temperaturas exteriores decentes e um governo que realmente assume controlar o povo à exaustão.

[img] Milo Manara

Crónica de costumes

O conselho de administração da disconáite reuniu logo na tarde seguinte ao incidente para analisar as capas dos jornais e consequente visionamento das imagens de segurança. Confirmou-se que Joaquim, o porteiro niilista, tinha barrado a entrada a Cristiano Ronaldo, paradoxalmente devido aos blindados, aos armários ex-GOE e às AK-47. Joaquim, absorto em toda a mundanidade descomprometida do seu programa radiofónico semanal sobre tribos africanas e Arte Raku, não percebeu tamanho aparato. E concluiu simplesmente que aquele não poderia ser o Cristiano Ronaldo, jogador da bola. O conselho de administração esperou o pior, logo agora que o negócio parecia dar sinais de prosperidade sustentada; mas acabou tudo em bem. Quando Joaquim, o porteiro niilista, abriu as portas àquela noite, a casa encheu em menos de meia-hora. O conselho de administração, excepcionalmente contornando a estrita verdade dos factos, tinha emitido um comunicado assumindo e aclamando a opção do seu porteiro em impedir Cristiano Ronaldo de entrar, não pela estrondosa desproporção da comitiva, mas por "o jovem não se encontrar adequadamente vestido, com aqueles brincos ridículos e uma inenarrável camisa cheia de letras". Toda a gente compreendeu.

19 de agosto de 2007

Decreto

O arcontado (em digressão estival), esbaforido da chicha, por entre chás de menta com avelãs e o muezim a insistir na oração das cinco, deliberou que a unidade monetária da pólis será o dinheiro. Assim:

5 Misérias = 1 Ninharia

10 Ninharias = 1 Dinheiro

1000 Dinheiros = 1 Balúrdio

20 Balúrdios = 1 Enormidade

10 Enormidades = 1 Escândalo

Arconte cúmplice: J.BD

18 de agosto de 2007

International Small Arms Traffic Blues | The Mountain Goats

My love is like a powder keg My love is like a powder keg in the corner of an empty warehouse Somewhere just outside of town About to burn down

My love is like a Cuban plane My love is like a Cuban plane flying from Havana Up the Florida coast to the 'Glades Soviet made

Our love is like the border between Greece and Albania Our love is like the border between Greece and Albania Trucks loaded down with weapons Crossing over every night Moon yellow and bright There is a shortage in the blood supply But there is no shortage of blood The way I feel about you baby can't explain it You got the best of my love

A ditadura zelota

'Activistas destroem um hectare de milho transgénico em Silves'

A acção foi promovida pela associação ambientalista Verde Eufémia, tendo contado com a adesão de alguma população local e agricultores biológicos que discordam dos OGM. [Público]

O jornalista, como habitualmente, a fazer um servicinho subreptício às eufémias: "alguma população local e agricultores biológicos que discordam dos OGM" não diz nada; apenas pretende alargar a acção para fora do clube do djambé. Quanta população local? Quantos agricultores biológicos? Os jornalistas, de uma forma esmagadora, não só pactuam papagueando o que lhes é entregue pelos nossos novos senhores sem sentirem qualquer necessidade de verificação (que até poderia des-espectacularizar a notícia), como apresentam descaradamente uma marcada deriva ideológica, a nível individual e corporativo, que se apodera da informação produzida.

O hectare de milho destruído, dizem, foi apenas o "dano colateral" de uma acção destinada a lançar o alerta. Mas que assinala uma nova forma de combate ecológico, ainda inexistente em Portugal mas já praticada lá fora. [DN]

Apenas o dano colateral. É bonito ver argumentos mais associados a outros imperialismos na boca da sacristia bloquista. O proprietário da Herdade da Lameira, o senhor João Menezes, discorda. Parece que para ele, para a família dele, para os que trabalham com ele e para as famílias dos que trabalham com ele o dano foi absolutamente central. Não falando do país em que estas coisas acontecem sem consequências imediatas: o dano é central, profundo, estrutural.

Em causa nesta acção está o que os activistas do recém criado movimento consideram ser a "salvaguarda do direito a um ambiente saudável". E a destruição de 2% do campo da Herdade da Lameira uma forma de "estabelecer a ordem ecológica, moral e democrática que tem sido deteriorada pelas políticas europeias e do Governo", explicou ao DN Gualter Baptista, porta-voz da acção. [DN]

Qual é a diferença entre este crime e a vandalização de um carro ou de uma casa, enfim, de qualquer propriedade pública ou privada? Não teria sido possível prender os peter pans ideológicos no momento? Bastariam 10 ou 15 GNRs (provavelmente aqueles que lá estavam), que eles nem cara têm para levar dois estalos.

A auto-atribuída superioridade moral dos zelotas seria a maior imbecilidade desta e de outras histórias, se a maior imbecilidade não fosse o facto de lha confirmarmos com o nosso assobio para o ar. Como escreveu em tempos Alain Minc, "vocês são o nosso contrapoder, mas nós não nos atrevemos a ser o vosso".

17 de agosto de 2007

Culturismo

Ontem ouvi o José Pacheco Pereira descrever como se defendeu, em tempos, de uma investida troglodita dos Super Dragões com um saco de livros em riste. Há coisa de uns meses deliciei-me com a forma como um poema dá a volta a uma situação desesperada, no Sábado de Ian McEwan. Eu próprio já comecei a pegar na Odisseia e na Ilíada, uma em cada braço, cinquenta homéricas vezes por dia.

Eles que aprendam com o Hugo Chávez

'Página de Sócrates na Wikipédia alterada em PC do governo'

Para grande pesadelo do socport é muito mais difícil, na realidade, ao Departamento de Arquivos do Ministério da Verdade, a bela arte da prestidigitação do que o era para Winston Smith e colegas. Ao invés dos longos tubos em que circulavam documentos facilmente editáveis sem aparente mácula de tramóia, 2007 não é 1984 e quase todos têm pelo menos um olho na mula. A resistência faz-se, como sempre, pela luta entre a acessibilidade generalizada e o controlo da informação, mas agora cada computador é um potencial jornal na clandestinidade. Eles que aprendam com o Hugo Chávez.

Musicóis

O ano já vai alto, mais uns meses e começará a desmaiar a hora em que o sol está a prumo. Pequenos balanços ao ritmo a que se detectam padrões. Para além disso, existe mais ou menos um ano solar. Um braço da minha orelha tem rondado The Mountain Goats, My Morning Jacket, Gomez, Howie Gelb nas suas apesar de tudo diferentes cascas, Neutral Milk Hotel, My Morning Jacket, The Mountain Goats, Songs: Ohia, The Mountain Goats, My Morning Jacket e regressos aqui e ali aos Red House Painters e ao desgraçado slowcorista do Kozeleck. De uma forma ou de outra é um braço muito americana. Blame the late great Townes Van Zandt. Também ouvi, durante bastante tempo, uns gajos de palco absolutamente bons, com anos de jams e horas-luz de concertos. Gov't Mule. Grande rock clássico, grande Warren Haynes.

16 de agosto de 2007

Love @ first site

Este gajo é muito grande e ainda só meio mundo é que o sabe. Mas a outra metade já desconfia.

Aeroporto, manga de desembarque:

«Digam lá o que disserem, não há nada que chegue ao nosso país!»

Atiram estas coisas assim, sem cuidarem das almas sensíveis, mesmo depois de terem visto mais mundo. Ah!, a emoção do regresso, o bacalhau com todos. Obrigado senhor comandante, que nos alunou em segurança apesar da turbulência. Pegue lá numa salva de palmas. Viste o NorteShoppein de cima?

2 de agosto de 2007

easy livin' (venho já)

Henrique Pousão | A casa das persianas azuis | 1883