O conselho de administração da disconáite reuniu logo na tarde seguinte ao incidente para analisar as capas dos jornais e consequente visionamento das imagens de segurança. Confirmou-se que Joaquim, o porteiro niilista, tinha barrado a entrada a Cristiano Ronaldo, paradoxalmente devido aos blindados, aos armários ex-GOE e às AK-47. Joaquim, absorto em toda a mundanidade descomprometida do seu programa radiofónico semanal sobre tribos africanas e Arte Raku, não percebeu tamanho aparato. E concluiu simplesmente que aquele não poderia ser o Cristiano Ronaldo, jogador da bola.
O conselho de administração esperou o pior, logo agora que o negócio parecia dar sinais de prosperidade sustentada; mas acabou tudo em bem. Quando Joaquim, o porteiro niilista, abriu as portas àquela noite, a casa encheu em menos de meia-hora. O conselho de administração, excepcionalmente contornando a estrita verdade dos factos, tinha emitido um comunicado assumindo e aclamando a opção do seu porteiro em impedir Cristiano Ronaldo de entrar, não pela estrondosa desproporção da comitiva, mas por "o jovem não se encontrar adequadamente vestido, com aqueles brincos ridículos e uma inenarrável camisa cheia de letras". Toda a gente compreendeu.