A Linha do Tua existe desde 1887. Correcção: em Portugal, as infraestruturas que dependem do poder central (principalmente as do interior) não existem: insistem. Insistem em aguentar-se, em não desabar todos os dias, por vezes com calços inventados por quem continua a precisar delas. (3ª img)
Com 133.8Km, em 1906, completou-se a ligação entre as estações do Tua e Bragança. Desde 1992 começou a ser desmantelada, troço a troço. Já só faz os arredores de Mirandela.
Há muito que não aconselho ninguém a experimentar. Desde que me lembro (desde puto) as carruagens baloiçam de forma assustadora. À época achava aquela periclitância uma aventura do caraças. Os desencaixes de vigas e carris encaixavam na perfeição com a vertigem de uma paisagem deslumbrante.
No espaço de 2 anos morreram 4 pessoas, 31 ficaram feridas. A principal razão de estes números não estarem multiplicados por muitos mais é o facto de toda a gente saber que aquilo está por um fio e poucos se atreverem a espicaçar a má sorte. Todos sabem da falta de manutenção geral e reparação das traves apodrecidas e mal fixadas aos carris, que por sua vez estão desalinhados e chegam a estar separados, uns dos outros, em alguns centímetros. A paisagem, que se abre e desagua no património mundial do Douro, é feita de umas boas dezenas de metros entre a linha e o rio, lá em baixo.
Em tempos de crise por falta de regulação, apregoa-se o regresso em força do Estado. O grande problema é que este Estado abandona e desapareceu para cuidar de si próprio. Neste caso fá-lo com requintes de perversidade: acabará por fechar definitivamente a linha, devido à 'falta de condições de segurança', as mesmas que fez questão em não assegurar.
Relatório c/ fotos da Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (2008)