30 de março de 2009

Zeitgeist

Ric Stultz

Se é assim a todos os níveis, principalmente entre as pessoas...

Só falta (?) o Estado. E nunca deixa de ser entre pessoas.

28 de março de 2009

Sub Rosa

Se formos bem sucedidos a evitar o... impacto que a Moura Guedes sempre causa, podemos espreitar aquilo que deve constituir o esqueleto de uma investigação. Que a polícia inglesa prossegue, e para a qual a portuguesa parece recusar-se a contribuir (bruxo!).

Imaginemos que os ingleses intimam Sócrates e tal. Portugal passa a ter um PM arguido em Inglaterra, suspeito de ter sido corrompido para a aprovação de um projecto, enquanto ministro da nação? 

Mas aquilo em que eu fiquei mesmo a matutar foi: os gajos do vídeo juntaram-se e inventaram a história toda? Ou achavam que aquilo foi assim, como dizem que foi, mas não foi nada?

O mundo está a correr mesmo mal. Antigamente ainda se podia desabafar e atirar coisas sobre imigrar e tal. Agora o desabafo terá de incluir os planetas para cá da cintura de asteróides (os outros são gasosos).

27 de março de 2009

Os primeiros pós modernos

Volta e meia apetecem-me o Psicopátria ou Os Homens Não Se Querem Bonitos. E esbarro contra os vinis, por não ter prato à espera deles. E arrependo-me de ainda não os ter arranjado em CD, de onde nasce uma 847ª nota mental, porque estes supostamente sei sempre que quero e portanto não é preciso escrever. 

Psicopátria é o estremecimento da inteligência, da omnipotência púbere, dos jogos de palavras, esse sofisticado mecanismo de legítima defesa.

26 de março de 2009

Adenda: lol

Avelino Ferreira Torres foi absolvido em tribunal de todas as acusações

(Vale a pena ler a notícia toda.

No Jornal da Noite, a Sic analisa o penalty em realidade virtual.

Realidade virtual.)

25 de março de 2009

Se calhar é melhor chamar os miúdos para dentro

Na Letónia, o desemprego pode chegar aos 50% da população activa. Grande parte das economias de Leste (muitas UE) está prestes a rebentar. A Comissão Europeia apela aos seus países para se dedicarem no ataque à crise (o que deixa perceber que, no máximo, estarão apenas a defender-se dela). Obama passa a vida a explicar o seu plano, tantas quantos os ataques que algumas sumidades lhe fazem (ao plano). 

Portugal tenta sobreviver à sua crise privada desde... sempre. Para sobreviver à actual, rejeita liminarmente investimentos que mereceriam, pelo menos, maior reflexão; boicota a criação de empregos na energia eólica e outras renováveis em Trás-os-Montes (ao boicotar o desenvolvimento das mesmas); não tem dois dedos, quanto mais uma mão inteira que incomode a vergonhosa e generalizada corrupção autárquica (primeira grande linha do governo social, se não a mais importante). O Banco de Portugal é um pato sentado a ver cenas mirabolantes passarem-lhe debaixo do bico. O único partido que faz alguma oposição é um adolescente. O primeiro-ministro trata os cidadãos como atrasados mentais. Os atrasados mentais não páram de discutir um penalty do Sporting-Benfica.

23 de março de 2009

13 de março de 2009

special character

Abisag Tüllmann

10 de março de 2009

Nação valente e mortal

Chegou o José Eduardo dos Santos, senhor de um feudo de almas mortas pelo lixo e pelo luxo, tudo a céu aberto. Começou também o habitual sing-along das indignações. Puta que pariu. Indignem-se todos os dias: Portugal consegue ser mais escandaloso. Em plena Europa, sem petróleo nem diamantes e em democracia desde 74, conseguimos níveis de corrupção, estupidez e subdesenvolvimento muito competitivos. Se tivéssemos o subsolo a borbulhar matérias primas, também já tínhamos morrido de tudo e mais alguma coisa. Foi uma sorte, termos tido azar. É essa a grande diferença: aqui há muito pouco para roubar.

7 de março de 2009

Se não fosse passar à história como a ovelha que traiu o rebanho ou, pior ainda, como a ovelha que traiu o rebanho do Mário Soares - essa pessoa de outro campeonato - assumiria as consequências de estar farto do rebanho, que me reconhece tão pouco. Na verdade, não tenho um pensamento muito divergente do do rebanho, pelo que me fico pelo rebanho, embora calque caminhos paralelos, que não exactamente os do rebanho. No fundo os meus caminhos vão desembocar nos carreiros do rebanho. Mas reparem na minha lã.

3 de março de 2009

pois, pois...

"Naquele tempo, o deserto encontrava-se povoado de anacoretas. (...) Ao longo do rio, divisavam-se ainda casas onde os cenobitas, que viviam isolados em celas exíguas, apenas se reuniam para melhor poderem depois apreciar os benefícios da solidão. (...) Os ascetas, furiosamente assediados pelas legiões demoníacas, defendiam-se com a ajuda de Deus e dos anjos, praticando o jejum, a penitência e as mortificações. Por vezes, o aguilhão dos desejos carnais dilacerava-os tão cruelmente que chegavam a gritar de dor e a responder com as suas lamentações aos uivos das hienas esfomeadas que erravam sob o céu estrelado. Nessas alturas, os demónios adquiriam formas deslumbrantes. (...)

A virtude dos religiosos era tal que até os animais selvagens se submetiam ao seu poder. Quando um eremita se encontrava próximo da morte, um leão vinha abrir-lhe uma cova com as suas próprias garras. (...)

Pafnúcio respeitava os mais rigorosos jejuns e ficava por vezes três dias inteiros sem ingerir qualquer alimento. Além disso, usava um cilício de pêlo extremamente áspero, flagelava-se noite e dia e mantinha-se muitas vezes prostrado com a fronte sobre a terra. (...) Assim, ajoelhado na sua cela diante do simulacro desse madeiro salutar onde foi pendurado, como numa balança, o resgate do mundo, Pafnúcio deu por si a lembrar-se de ThaÏs, porque ThaÏs era o seu pecado, e meditou longamente segundo as regras do ascetismo, na fealdade monstruosa das delícias carnais para as quais essa mulher o havia despertado, nos dias de ignorância e de perturbação. (...)

- Irmão Palomão, irei a Alexandria ter com essa mulher e, com o auxílio de Deus, convertê-la-ei. Tal é o meu desígnio; não o aprovas, meu irmão?

- Irmão Pafnúcio, não passo de um infeliz pecador, mas o nosso pai António tinha por hábito dizer: «Estejas em que lugar estiveres, não tenhas pressa de sair em direcção a outros lugares.» (...)

Uma grande agitação tomava conta do seu espírito.

«Este eremita», pensava ele, «é um bom conselheiro; está nele o espírito da prudência. E ele duvida da sensatez do meu desígnio. Porém, afigura-se-me cruel deixar que ThaÏs se mantenha durante mais tempo presa no demónio que a possui. Que Deus me ilumine e me conduza!»

(...) "

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Anatole France (ThaÏs, 1890)

[img] Jeff Alu

1 de março de 2009