20 de junho de 2009

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[marriedtothesea]

Todas as noites, sem a excepção de uma única, adormeço a pensar que diminui a probabilidade de a lua continuar assim, apenas com sucata das sondas e uma bandeira minúscula, sem ter sido transformada num outdoor verdadeiramente global. Imagino o logo de uma Cola, a curva da Nike ou os dentes do Cristiano Ronaldo, lá em cima, a comandar o imaginário dos de cá de baixo. Tecnicamente não deve ser muito difícil e a NASA precisa de dinheiro vivo. Já não é a primeira vez que me parece que já foi, transformada num quadrado publicitário a empresas de construção. Têm sido falsos alarmes, são caixas iluminadas nas gruas das obras.

Já vejo em antecipação, nas TVs de todo o mundo, slogans a anunciar que "A Lua Cheia de 20 de Agosto é oferta da Virgin", ou que "A Casa de Saud patrocina o Quarto-Crescente e lembra que não há Deus senão Alá, sendo Maomé o seu profeta".

Tuned

Henry Diltz

15 de junho de 2009

Geee-Zus!...

Ainda faltam 101 dias para nos livrarmos dos nove mil oitocentos e cinquenta e seis trocadilhos Jesus/Benfica. Mas, se tudo correr normalmente, a fase final será apoteótica. Imagine-se a proficuidade do jogo escrito e falado, quando o homem cair, em pleno Natal...

14 de junho de 2009

Revolução de 1927

Betmann / Corbis
Tubo de raios catódicos de Philo Taylor Farnsworth
Imagem de Joan Crawford, projectada como sinal eléctrico de televisão (video camera tube)

13 de junho de 2009

O Paulinho das Feiras

Gosto da Feira na baixa, sai-se daquela bolha insuportável, o suor tem a ver com o sol em vez da condensação do dos outros, fuma-se, bebe-se qualquer coisa e respira-se com alguma naturalidade. Passa-se pelo Mexia, pelo Daniel Serrão, pela Alice Vieira e pelo Araújo Pereira em fato de corte impecável, rodeado de crianças como se fosse o Neto Cantigas, tudo a torrar. Os autocarros passam tanjas aos sacos com bestecéles e , ali ao lado, o tapete vermelho para a Gaiola das Loucas, do La Féria, leva com os últimos verdes em vasos com holofotes. Está explicada a presença, que eu vi ontem claramente vista, do cronista de curtumes Carlos Castro, ó pé de um grand'hotel, de óculos escuros às 9 da noite. O que estaria ele a fazer quase no meio da rua, a gesticular com 2 pessoas que lhe respondiam do passeio? (momento de homenagem à estética do próprio)

De volta aos Aliados: tudo bem. Excepto a oferta. Mega-petroleiros devem ter atracado, carregados de livros com capas em relevo (nem a Montanha Mágica se salvou desta praga, se bem que o levantamento da letra seja mais discreto), edições de coisas fresquinhas de um, dois, três anos que ainda cheiravam a Palácio de Cristal, a Leya a açambarcar um perímetro jeitoso, um Rodrigues dos Santos de cartão, a quem quase perguntei as horas, em versão Obras Completas.

Metódico como no supermercado, percorro a linha de barraquinhas da direita em direcção à câmara, fumo um cigarro sentado à beira do charco-de-propósito, lá em cima, e desço a linha paralela à outra que tinha subido, de volta à Praça da Liberdade. Com a mochila a arder-me nas costas e alguma água a escorrer-me vale abaixo. O peso da cultura é tramado mas, neste caso, fez-me sentir coisas dos tempos dos primeiros hieróglifos ou da escrita cuneiforme: os egípcios e os sumérios também devem ter transpirado das costas, meia dúzia de vezes. Aquelas placas...

A Ninfa Inconstante, o Exit Ghost, a Thaïs para oferecer, a Montanha Mágica em português daqui, Questões de Retórica - Linguagem, Razão e Sedução e mais 4 ou 5 subsídios para apreender ideias relativamente específicas. Coisa pouca de novos territórios. Ficaram no ar A Ciência dos Símbolos, O Conhecimento e o Problema Corpo-Mente, Os Logocratas, O Rotter's Club e O Círculo Fechado, o Congresso Futurológico e as Memórias Encontradas Numa Banheira. "Esse e esse e esse e esse e esse e esse e esse não temos".

Agora vou descolar os preços das capas. Parem com isso.

[img: Viner]

A Troposfera

Ontem esteve aquela calma pesada antes de... nada. A cidade (este lado da cidade, pelo menos) andou por aí meio vazia, a velocidade e as pessoas não eram as dos outros dias. Os passeios tinham adolescentes a vaguear as férias, a fumar em grupo com auscultadores em todos os ouvidos, pessoas de passagem pelos cafés e uns poucos que iam ou vinham de trabalhar. A atmosfera estava pesada, apesar da brisa e da temperatura quase agradável. Havia expressões de uma certa estranheza nas caras das pessoas. Quando a cidade fica mais acessível costuma haver um contágio de fluidez, só que ontem todos se arrastavam, mas como se o ritmo fosse normal e o normal fosse aquele ritmo. Parte da avenida começou a ser esburacada por máquinas, em vários pontos, suponho que para manutenção de cabos, fibras e outros sepultados desse género. O cemitério costuma ter algo a acontecer, só à noite parece haver descanso. Quase sempre um acrescento, sensivelmente à mesma hora, pelo menos àquela hora. Atravessar funerais a pé pode ser uma experiência extrema. Todos os códigos estão subvertidos, as pessoas menos possuídas pela dor da separação, as que se concentram na perda, confrontam-se com a única certeza da vida, olham muito à volta, e os dogmas provocam roupas, expressões e movimentos de dimensões extraordinárias, contidas e sublimes. Ao fim de uns anos, morre-se. Quero ver amanhã. Ando mesmo interessado no tempo que faz.

10 de junho de 2009

musicól

misturado às árvores aqui da frente (esse instrumento de sopro).

9 de junho de 2009

keep digging

"Não acho que seja justo pôr de lado tal hipótese simplesmente por causa da sua inerente improbabilidade."

S.Freud, do caso 'Schreber', 1911

8 de junho de 2009

Queria saber a origem e o significado das palavras, sff.

Incompreensível. Não há um dicionário etimológico da língua portuguesa, online. Como é que as pessoas conseguem ir viver, todos os dias, sem um dicionário etimológico online?

6 de junho de 2009

5 de junho de 2009

Haja ordem

As regras da espontaneidade.

Lamento, mas e não é que pois é?

"A literatura é como a cocaína e a música é como a heroína: a primeira aguça o espírito, a segunda idiotiza-te."

Iggy Pop, via 'Sábado'

2 de junho de 2009

Jardim Antropológico

Aborrece-me a mais ou menos disfarçada tabloidização de quase tudo o que não tenha nascido para o ser, notícias tratadas por ângulos a puxar a fulano, anunciação de iminentes argumentos ad hominem (isto na melhor das hipóteses, por apesar de tudo ainda serem contra-argumentáveis).

Mas dá-se um fenómeno curioso: há uns anos negaria qualquer espécie de pulsão voyeurista sobre as vidas dos famosos e derivados, daqueles que não existem sem a constante tabloidização de si próprios. Hoje assumo visitas regulares aos sites com as capas da especialidade, ao comentário social-frívolo em invariável mau português, às tele-tertúlias cor-de-rosa; enfim, ao mundo das tangentes. Aquelas vidas fazem tangentes a quase tudo, e isso é de uma extraordinária riqueza antropológica.

Sugeriu certa vez João dos Santos, em corolário sobre educação sexual, que os pais levassem os filhos ao jardim zoológico. Para uma introdução ao grande universo dos pequenos horizontes, por dependerem da folia das emoções mais básicas, sugiro visitas ao jardim do boato, da inveja mal disfarçada, do amor eterno e do divórcio público em meio ano, relatados minuto a minuto; do bebé-gadget, da desilusão e do 'esgotamento', da filosofia ready-made, da interminável adolescência. Aprende-se muito e, volta e meia, aparecem miúdas giras.

[img: Manara]

1 de junho de 2009

Der Zauberberg

Demasiados anos depois da última e esgotadíssima edição em português, ressuscitaram A Montanha Mágica. Esta obra maior da arte de Thomas Mann, para além de melhor vestida (suponho que não tenha relevos, ainda só a vi na net), vem traduzida directamente do alemão, para a D. Quixote. Nova fase na perpetuação de um dos melhores livros na história do sapiens.

Regresse-se então a Hans Castorp e à sua retirada estratégica, a pedido do corpo por jogada da alma. Para reler mas, principalmente, recomendar aos 2 ou 3 miúdos melancólicos que ainda conseguem esperar pela recompensa. É que a peça é robusta e às vezes parece não acabar. Depois, quem não conseguir abandonar aquela genialidade toda pode seguir para o Doutor Fausto, em velocidade de cruzeiro. Aqui já a leitura escorrega facilmente e é preciso ir travando mais ou menos a fundo. Depois destes dois não há purificação possível. E não foi preciso chamarem-lhe escritor maldito.