The Factory, NYC, Janeiro de 1966, cerca de 70 minutos em 16mm. Câmara manobrada por Andy Warhol (a passar-se com zoomings sucessivos e aborrecidos, como se uma mão histérica abrisse as portas do paraíso psicadélico), que regista um longo momento de improvisação dos quatro VU, enquanto a bela da Nico anda por lá a rir-se para o filho, a abanar umas maracas, a passear com uma chave-de-fendas nas cordas de um baixo e a tentar perceber como poderá encaixar-se naquele bando de anjos caídos. A coisa é interrompida pela polícia por causa dos decibeis que a vizinhança achou insuportáveis, sem saber que de dentro da espelunca saía o som que arrasaria com qualquer réstia de paciência para as estruturas compostinhas dos yeah yeah yeahs que ainda se iam ouvindo. Valor essencialmente histórico e documental, até porque é possível ver o Lou Reed a esboçar meia dúzia de sorrisos.
Londres, Janeiro de 1967. Peter Whitehead promove (e paga) a primeira sessão de gravação dos Pink Floyd, nos Sound Techniques Studios, onde aqueles apalpam uma versão de Interstellar Overdrive, com Syd Barrett compenetrado, aparentemente antes de ter escorregado do mundo. Pelo meio dos 30 minutos de viagem são mostradas imagens dos Floyd no UFO Club, em que o braço do baixo de Waters está praticamente em contacto com o tecto; assim como passagens das 14 Hour Technicolor Dream Extravaganza, com Lennon a vaguear pela sala, entre molhos de londrinos esgazeados na bolha alucinogénia.
Assim, sim; um grande Domingo de Páscoa. Amén.