Jesus Cristo, o protótipo do homem a caminho da divindade, não deu só a outra face, ofereceu-se em martírio e morreu por amor. É o irmão mais invejado, o filho preferido do pai mais poderoso. A narrativa correu mundo e encontrou milhões de almas prontas a recebê-la. A nossa necessidade de salvação alojou-O, o Cristianismo precede Jesus Cristo. Precede-o na insuportabilidade do absurdo da vida e, principalmente, da ideia de morte. Depois de instituído o modelo de acesso, foi uma questão de tempo para que o pensamento encontrasse quem o pensasse. Foi um alívio. Afinal podemos aceder à paz exacerbando aquilo de que não nos conseguimos livrar, a condição sofrente. E portanto, na cobiça narcísica daquele apetecido lugar, sofre-se muito. Sofre-se para dar conta da vida e da morte, e para Lhe seguir o exemplo que, dizem as escrituras, é o bilhete para a ausência de dor. Aspira-se a uma vida eterna sem desejo nem culpa, uma espécie de morte desfrutada, um paradoxo irresolúvel para as danças do século.
Nunca conseguiremos deixar de fugir à mais exigente das transformações: encarregar-mo-nos da noção de que só deixaremos de sofrer quando morrermos e que é exactamente aí que também deixamos de existir e que tudo, mas mesmo tudo acaba. Uma falácia económica.
Nunca conseguiremos deixar de fugir à mais exigente das transformações: encarregar-mo-nos da noção de que só deixaremos de sofrer quando morrermos e que é exactamente aí que também deixamos de existir e que tudo, mas mesmo tudo acaba. Uma falácia económica.