9 de outubro de 2009

Bolhão-Pathos

A Elisa Ferreira é uma personagem ligeiramente insuportável. O desespero leva à perda de discernimento, mas a certeza da gamela europeia deveria garantir-lhe outra serenidade. Embora, na verdade, não se trate de desespero, estou a ser ingénuo. A figura que a Elisa anda a fazer só se compreende se pensarmos que ela está ao serviço do partido, quid pro quo. Depois da era do descalabro, protagonizada por Fernando Gomes e Nuno Cardoso, o PS-Porto entrou em modo desnorteado, parecendo não exigir de si próprio mais do que uma boa dose de populismo e agressividade (como se o populismo não fosse já, por si só, suficientemente violento). O ressabiamento deu-lhes vontade de partir tudo e, de 4 em 4 anos, chamam a Elisa.

A questão do Bairro do Aleixo é paradigmática. Rui Sá, o candidato do PCP, tem a honestidade intelectual de admitir a total falta de sentido daquela bomba-relógio. 5 torres de 13 andares com milhares de pessoas que vivem, ad aeternum, do apoio do estado, são impossíveis de resultar. Aquele pessoal todo junto, mesmo que em casinhas individuais umas a seguir às outras, não resulta. Resulta na amplificação da mancha, que se alarga, cada vez mais, às redondezas. Até ao início do Campo Alegre não há entrada de prédio, recanto, Multibanco ou paragem de autocarro que não tenha gente a enfiar agulhas na pele e pratas no chão. Os anos encarregaram-se de o demonstrar à exaustão, todos os dias. O que Rui Sá questiona é o modelo do negócio Câmara/Privados, e isso é muito legítimo. Já Elisa Ferreira acusa Rio de 'engenharia social', como se a política não fosse, toda ela, uma forma de engenharia social. Como se o Aleixo não fosse o exemplo acabado da pior engenharia (e arquitectura) social. Algum povo (quantos?) grita pela manutenção do Aleixo nos moldes de sempre, EF defende o Aleixo nestes moldes. É inacreditável que alguém defenda a recuperação dos edifícios sem parar para pensar que, 1 ou 2 anos depois, volta tudo ao mesmo. Não foi a degradação dos edifícios que degradou a vida no bairro. A causalidade, quando o assunto são pessoas, nunca é linear, mas o contrário faz bem mais sentido.

É de uma irresponsabilidade atroz. Senhor comandante, ela é perigosa. Que temos de perguntar às pessoas, diz a candidata a nada. E, se as pessoas gostam de tripas, tripemos num mega-festival. O LaFéria é que não, que é piroso e veio gastar o tecido das cadeiras do Rivoli, tão poupado ao longo de anos e anos com arte exclusiva. Rio separa o poder político do futebol, EF berra que 6 milhões de benfiquistas estão muito felizes - agora que vai para Bruxelas, só quer Lisboa a arder. Por achar que o povo quer Lisboa a arder. O Bolhão tem (entre outros mais sérios) um problema histérico, EF assume-se a histriónica-superiora. E tem o Abrunhosa ao lado, motivo mais que suficiente para caminhar na prancha sem direito a último pedido.

Acho escandaloso que Elisa Ferreira tenha mais votos que o Rui Sá.

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Só com muita arte circense pode afirmar-se que o Porto está pior do que estava, quando Rui Rio chegou. Está melhor, bem melhor. Espero que a loucura autofágica lá do partido dele não acabe por triturá-lo para longe daqui.