Com este thriller de intriga em ambiente extraterrestre, K. Dick escreveu uma das suas mais datadas novelas de ficção científica. Há algo de muito curioso, quando se junta a intenção de projectar o desenvolvimento da tecnologia e da organização da sociedade sem um grande esforço de distanciamento à actualidade referencial em que as obras são concebidas. E lê-las, trinta e tal anos depois, dá um gozo especial. Ao contrário de grande parte das suas obras-primas, K. Dick ensaia uma realidade muito idêntica ao presente de então, com blocos comunistas e capitalistas a dominarem um mundo estratificado em todos os sentidos possíveis (pelo menos no lado americano da questão). As classes atingem um nível laboratorial em Alfa III M2, uma lua do sistema Alfa Centauro que os terrestres conquistaram aos alfanos e logo abandonaram, depois de a terem transformado no depósito dos seus (oficialmente reconhecidos) doentes mentais. Durante 25 anos viveram entregues a si próprios, à especialização e às produções da sua loucura, organizando-se em clãs que não são mais que um passeio pelos compêndios da psiquiatria dos anos 60. Os pares (paranóides) concentraram-se em Adolphville (segundo o tipo mental de Adolph Hitler), os mans (maníacos) em Da Vinci Heights, os heebs (hebefrénicos) em Ghanditown, etc.. Com um enredo em que os diversos cruzamentos de intriga (política, social, pessoal) complexificam progressivamente a acção, Os Clãs Da Lua De Alfa é uma das menos inovadoras e mais datadas obras de Philip K. Dick - um objecto que merece toda a curiosidade e atenção que se lhe possa dispensar, portanto. Há algo de extraordinário em ver os génios a descansar.