Certo dia, a mãe de uma menina mandou-a levar um pouco de pão e leite à sua avó. Quando caminhava pela floresta, um lobo aproximou-se e perguntou-lhe onde ia.
- Para a casa da avozinha.
- Por qual caminho, o dos alfinetes ou o das agulhas?
- O das agulhas.
O lobo seguiu pelo caminho dos alfinetes e chegou primeiro à casa. Matou a avó, despejou o seu sangue numa garrafa, cortou a carne em fatias e colocou-as numa travessa. Depois, vestiu a sua roupa de dormir e deitou-se na cama, à espera.
Pa, pam.
- Entre, querida.
- Olá, avozinha. Trouxe-lhe um pouco de pão e leite.
- Sirva-se também, querida. Há carne e vinho na copa.
A menina comeu o que lhe foi oferecido, enquanto um gatinho dizia: "Menina perdida! Comer a carne e beber o sangue da avó!"
Então o lobo disse:
- Tire a roupa e deite-se comigo.
- Onde ponho o meu avental?
- Atire-o ao fogo. Não vai voltar a precisar dele.
Para cada peça de roupa (...) a menina fazia a mesma pergunta, e a cada vez o lobo respondia:
- Atire ao fogo... (etc.).
Quando a menina se deitou na cama, disse:
- Ah, avozinha! Como você é peluda!
- É para me manter mais aquecida, querida.
-Ah, avozinha! Que ombros largos você tem!
(etc., etc., nos moldes do diálogo conhecido, até ao clássico desfecho):
- Ah, avozinha! Que dentes grandes você tem!
- É para te comer melhor, querida.
E devorou-a.
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Post adaptado de 'Fadas No Divã - Psicanálise nas Histórias Infantis'; Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso; ArtMed; 2006