O Gato Fedorento nunca foi a grande revolução humorística que se apregoa; nunca foi, sequer, um Herman pré-relógio-de-24-quilates. Tiveram ou têm a sua piada, foram ou são capazes de criar situações engraçadas e, de quando em vez, muito engraçadas; sempre em registo sound-byte infeccioso (peguem lá esta modinha, gastem-na até que já não a possamos ouvir). Em Portugal, país onde os verdadeiros protagonistas suplantam sempre as caricaturas, aquilo que eles fazem pode considerar-se bem bom. Mas bem bom no sentido de ser o que temos, seguido de um encolher dos ombros e mudança de assunto. Se o início, artesanal e mesmo rudimentar, trouxe aquele bónus de pica e romantismo, à medida que a coisa avança percebe-se que o acesso a produções cada vez mais cuidadas prejudicam o ambiente meio caótico de adolescente com uma câmara de vídeo em que os sketches do grupo se alicerçavam. O Isto É Uma Espécie De Magazine teve tanto de paradigmático como de soporífero. Há coisas que se alimentam da adversidade, e a melhor criação artística sempre viveu muito de um certo espírito anarca, reivindicativo ou de simples accusatione. Ora, não só os Gato, como escreveu em tempos VPV, são política e socialmente irrelevantes (não pensam a política nem a sociedade, apenas a caricaturam), como estão a ficar ricos. Se uma maior profundidade de acção, além dos bonecos que criam, nunca lhes interessou (tal opção reduzir-lhes-ia, inevitavelmente, a audiência) estão agora prestes a perder algo mais: têm euros, popularidade e acesso - três dos principais cálices que os empurraram para a frente. Promover ou aceitar a promoção de anúncios publicitários nos mesmos moldes em que se promove material artístico, inédito ou requentado, não é apenas o corolário do hype; é também o princípio do fim. Não vai ser dramático.