O grande impacto que a noção de morte tem no funcionamento mágico da infância segue-se às primeiras congeminações sobre a irreversibilidade («o peixe ou o cão ou o avô não voltam»). Daí até à universalidade («toca a todos») é um pequeno passo. O real parece então levar dianteira, mas aquela que poderia (deveria?) ser a última grande aquisição nem sempre acontece: o desconhecido post-mortem é combatido por religiões e outros sistemas filosóficos, mais ou menos sofisticados. O desconhecido é tramado, entre outras razões porque parece ameaçar a individualidade (selfness). Por outro lado, quanto mais a pessoa se pensa mais mortal se torna. Quando se percebe que o fim é certo, reactualiza-se a inocência perdida, em que a morte já foi apenas um son(h)o possível de ludibriar; como nas refeições totémicas de incorporação do corpo e sangue de um dos que lhe sobreviveu (o corpo e o sangue daquele que ressuscitou) , por exemplo. Comei e bebei todos, este é o meu corpo, este é o meu sangue, entregue por vós. Quando se pode escolher entre uma eterna dívida e uma dúvida, a resposta brota, naturalmente.