30 de abril de 2009

PQP

Primeiro foi a Pandora, agora o Daily Show.
What da fuck's wrong with my area?!
Assim não dá.

29 de abril de 2009

O número do levantamento de santos aumenta na razão dos anjos caídos.

– A sua saída significa que Portugal vai viver, quanto à santidade, uma travessia no deserto? (*)

– Portugal vai, certamente, continuar a ter santos. Somos um país de santos. Estão em Roma 33 causas de beatificação e canonização oriundas do nosso país.

D. José Saraiva Martins, Prefeito das Causas dos Santos

* Curiosamente, as "travessias no deserto" eram dos mais habituais requisitos para a santidade, no tempo dos anacoretas, cenobitas e demais ascetas místicos. Hoje basta um pouco de óleo de fritar peixe. Mas isso são preciosismos da representação das palavras.

Get a gripe

Pois é, desde o meu vizinho do 1º Dto, passando pelo PP, pelo Irão, Sócrates ou Israel, não se consegue parar de pensar no estrangeiro. No outro dia fui eu o estrangeiro do 1º Dto. Os imigrantes e, enfim, tudo o que des-conserve o país são o estrangeiro do PP. Israel é o estrangeiro do Irão. O mundo é o estrangeiro de Israel. Os não-Sócrates são os estrangeiros de Sócrates. E, por umas semanas, os porcos serão os estrangeiros dos humanos, numa comovente eucaristia uniófila entre a Tora e o Corão. Se isso salvar o mundo...

28 de abril de 2009

Este país tem cidades bonitas

Depois de Viana do Castelo, Braga e Cascais proibirem a realização de touradas, Sintra proíbe também espectáculos de circo com animais.

25 de abril de 2009

Abusão *

No hall do século XXI, Dona Gulhermina de Jesus (bruxo!) estava a fritar um peixe e levou com um geiser de óleo a ferver. Em plena córnea. Até aqui a história foi realmente séria. Valha-me isto, valha-me aquilo e, já agora, valham-me os doutores do hospital. No meio dos istos e dos aquilos meteu o D. Nuno Álvares Pereira e, concerteza, umas extremas unções da farmácia. A córnea sarou e o tsunami da beatificação do D. Nuno avançou, imparável. Parece que era só o que lhe faltava, no escadório do cânone. E lá vai uma comitiva ao Vaticano: a habitual salada de políticos (à falta de uma final europeia do FCP), religiosos e outros respeitabilíssimos etceteras. Até esteve quase para ir D. Cavaco, mas umas carraças pensantes não se calaram com aquele incómodo da laicidade do Estado.

Quem deve estar com os olhos lixados é Deus (suponhemos), de os revirar.

*

23 de abril de 2009

Forças vivas e melancólicas

" A loura Inge, Ingeborg Holm, a filha do Doutor Holm, que vivia perto do mercado, onde, ao alto, graciosa e de aspecto sempre variável, ficava a fonte gótica, era quem Tonio Kröger amava aos 16 anos. (...)

Ela devia vir! Ela devia reparar na ausência dele, devia sentir como ele se sentia, devia-o seguir secretamente, mesmo que fosse só por caridade, pôr-lhe a mão no ombro e dizer: Vem lá para dentro, para junto de nós, alegra-te, eu amo-te. E ele escutou atrás de si e esperou numa angústia pouco razoável que ela viesse. Mas ela não vinha. Tais coisas não aconteciam sobre a Terra. (...)

O coração de Tonio Kröger encolheu-se com este pensamento. Sentir como é maravilhoso que forças vivas e melancólicas se agitem em nós e saber que aqueles a quem queremos nos enfrentam alegremente inacessíveis, isso dói. "

Thomas Mann (Tonio Kröger, 1903)

20 de abril de 2009

Linha do Tua

A Linha do Tua existe desde 1887. Correcção: em Portugal, as infraestruturas que dependem do poder central (principalmente as do interior) não existem: insistem. Insistem em aguentar-se, em não desabar todos os dias, por vezes com calços inventados por quem continua a precisar delas. (3ª img)

Com 133.8Km, em 1906, completou-se a ligação entre as estações do Tua e Bragança. Desde 1992 começou a ser desmantelada, troço a troço. Já só faz os arredores de Mirandela.

Há muito que não aconselho ninguém a experimentar. Desde que me lembro (desde puto) as carruagens baloiçam de forma assustadora. À época achava aquela periclitância uma aventura do caraças. Os desencaixes de vigas e carris encaixavam na perfeição com a vertigem de uma paisagem deslumbrante.

No espaço de 2 anos morreram 4 pessoas, 31 ficaram feridas. A principal razão de estes números não estarem multiplicados por muitos mais é o facto de toda a gente saber que aquilo está por um fio e poucos se atreverem a espicaçar a má sorte. Todos sabem da falta de manutenção geral e reparação das traves apodrecidas e mal fixadas aos carris, que por sua vez estão desalinhados e chegam a estar separados, uns dos outros, em alguns centímetros. A paisagem, que se abre e desagua no património mundial do Douro, é feita de umas boas dezenas de metros entre a linha e o rio, lá em baixo.

Em tempos de crise por falta de regulação, apregoa-se o regresso em força do Estado. O grande problema é que este Estado abandona e desapareceu para cuidar de si próprio. Neste caso fá-lo com requintes de perversidade: acabará por fechar definitivamente a linha, devido à 'falta de condições de segurança', as mesmas que fez questão em não assegurar.

Relatório c/ fotos da Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (2008)

Slideshow de Luís Leite Pinto (Engº IST)

Movimento Cívico pela Linha do Tua

17 de abril de 2009

€uromilhões

O pão e os medicamentos são duas necessidades básicas, só que há muito mais gente a saber sintetizar pão do que amassar e cozer moléculas químicas. Portanto, na interminável guerra à volta dos euromilhões do negócio da doença, vem agora o bastonário dos médicos contra-atacar os senhores das farmácias. Estes, encantados com o pot€ncial dos genéricos, começaram a acusar aqueles de não abrirem mão das viagens que os laboratórios sempre ofereceram a troco de prescrições. Agora, o representante dos médicos, magoado pela quebra do pacto implícito que vigorou décadas a fio, de ninguém descobrir a careca a ninguém (e realmente, até aos genéricos, ninguém tinha interesse nisso - a reforma da Dona Miquinhas pagava os BM's de todos), vem ameaçar com uma fórmula que permitiria entregar directamente os medicamentos aos pensionistas, sem passar pela farmácia e sem pagar dois contos.

E tudo isto enojaria, se o português médio conhecesse algo mais para além do cheiro a coisas podres.

Se é exequível, por que não está já em vigor? Porque não passa de uma arma popularucha na guerra dos euromilhões. Uma guerra corporativista, com esgares plutocratas. Tomem vergonha - 500 mg dela.

15 de abril de 2009

BCS #43: MMJ

(também quero um omnichord!)

14 de abril de 2009

Sopa de Letras

Extraordinária, a história da ignorância sobre si próprio do irmão Pafnúcio, o anacoreta que se julgava quase santo em Thaïs, de Anatole France. Só tinha lido a Ilha dos Pinguins, outro prodígio, e juro que ainda quero mais, cada vez mais.

Entretanto, passeio contentinho da vida pelos casos d'O Médico Inverosímil. Ramón Gómez de la Serna, no início do século passado intui, como quem conta uns contos, a arte de curar de dentro para fora. Ao mesmo tempo (sinal dos tempos?), um certo génio fixado em charutos e no mito de Édipo não andava longe daqueles pensares.

E fico a saber da edição próxima (e póstuma) de mais um Guillermo Cabrera Infante, criador do céu, do inferno e da terra em algumas das melhores horas com letras da minha vida, quando lhe descobri pública a Havana privada.

Benditos caldos.

9 de abril de 2009

8 de abril de 2009

Separados à nascença

“Não lhes falta nada. Têm cuidados médicos, comida quente... Claro que o actual lugar de abrigo é provisório, mas há que encarar a situação como um fim-de-semana no parque de campismo." Silvio Berlusconi, sobre os desalojados do sismo em Itália

“Foi muuuito divertido. Nem queria vir embora, é um local tão relaxante, tão calmo e tão lindo. Visitámos os campos de detenção e as celas, onde tomam banho, como se divertem com vídeos, aulas de arte, livros. Foi muito interessante.” Fulana-de-tal (Miss Mundo), sobre Guantanamo Bay

6 de abril de 2009

Louco na fossa poplítea

" O 'sentido' é de ordem pré-simbólica e provoca um curto-circuito na representação da palavra. Vamos tentar aqui fazer uma comparação com a maneira pela qual os psicóticos tratam a linguagem. O pensamento do psicótico pode ser concebido como uma 'inflação delirante' do emprego da palavra com a finalidade de preencher os espaços de vazio aterrorizante, enquanto os processos de pensamento dos somatizantes procuram esvaziar a palavra da sua significação afectiva. Nos estados psicossomáticos, é o corpo que se comporta de maneira 'delirante'. O corpo enlouquece. "

Joyce McDougall (Teatros do Corpo)

2 de abril de 2009

Princípio do Prazer

O dia das mentiras não faz sentido nenhum. Nunca fez, muito menos em 2009. E não é pela infantilidade da coisa nem pela falta de pachorra para a infantilidade da coisa - um gajo tem de aturar estas merdas, como atura o Carnaval e às vezes o José Rodrigues dos Santos. O pessoal do 1º de Abril também tem de aturar a minha cara de alicate entediado. É que, desde o sapiens neanderthalensis, o dia das mentiras como momento extra-ordinário faz tanto sentido como o dia do oxigénio.

Proponho, portanto, o dia das verdades. Celebra-se a coisa com uma extravagância qualquer, como "a maior parte das vezes não dizes nada de jeito e ando há 3 meses a tomar cafés contigo porque tenho uma vaga esperança de te saltar prá espinha apesar de não seres nenhum avião". Ou "senhor engenheiro, as pessoas têm a certeza de que lhe falta tanto carácter a si como dinheiro a elas, mas a oposição é assustadora e portanto vamos ganhar outra vez, e essa é a única razão". Ou "se cheirar mal fui eu".

Uma espécie de suspensão higiénica do princípio da realidade. Imprimatur?